Quando o texto do norte-americano Martin Sherman lhe caiu nas mãos, Débora Olivieri achou que jamais seria capaz de encená-lo. “Não conseguia nem chegar ao fim. Caía sempre no choro e não parava mais”, conta a atriz. “Aquela era a história da minha avó, com quem eu vivi por 20 anos, da minha bisavó. Era a história que eu ouvi a minha vida inteira. Como poderia me distanciar o suficiente para fazer um espetáculo?”
Débora conseguiu. Rosa, espetáculo que ela estreia nesta segunda-feira, 7, no Teatro Faap, conta a trajetória de uma mulher que acompanhou boa parte das mazelas do século 20. Ela nasceu em algum pequeno povoado da Ucrânia, mas hoje mora em Miami, nos Estados Unidos. Perdeu tudo. Mas conseguiu refazer-se. Assistiu ao assassinato da filha de três anos. Nunca encontrou o corpo do marido que amava. “Ela é judia como eu. Mas não é com isso que as pessoas se emocionam. Essa poderia ser a vida de qualquer excluída, de uma afegã, de uma etíope, de uma nordestina”, considera a intérprete, que antes de chegar a São Paulo, cumpriu uma elogiada temporada no Rio, sob a condução da diretora Ana Paz.
Na obra, Rosa já tem 80 anos. Débora só completou 55. Mas ganha quase três décadas assim que entra em cena. “Não uso maquiagem. No começo, colocava um pouco de talco no cabelo. Mas, ultimamente, ele já está ficando branco naturalmente”, comenta ela.
Ao fim da vida, a personagem-título se vê mais uma vez de luto. É nesse momento que começa a rememorar o passado. Recupera a imagem da perda do pai. Apenas o primeiro dos muitos mortos que viriam na sequência e a acompanham ainda hoje. “Acho que toda família judia tem uma Rosa”, pontua a atriz.
ROSA – Teatro Faap. Rua Alagoas, 903, Higienópolis, 3662-7233 e 3662-7234. 2ª, às 21 h; 3ª, às 17 h. R$ 60. Até 10/12.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.