Ronaldo Fraga homenageia Pina Bausch na SPFW

O estilista mineiro Ronaldo Fraga é conhecido por sua paixão pelo teatro e pela dança, arte com a qual colabora há anos, construindo figurinos para companhias de balé como o mineiro Grupo Corpo. Ontem, no terceiro dia da São Paulo Fashion Week, ele homenageou um de seus maiores ídolos, a coreógrafa e dançarina alemã Pina Bausch, que morreu em junho passado, pouco depois de receber o diagnóstico de câncer. “Pina não seguia convenções. Ela nunca se sentou em cima de qualquer fórmula que desse certo”, diz Ronaldo. “Na minha passarela não existe tendência. Vale tudo.”

Pina deixou mais de 40 obras. Isso sem contar as participações para o cinema, como em “Fale Com Ela”, de Pedro Almodóvar, onde aparece em uma sequência de dança. Uma das músicas do filme é Cucurucu Paloma, interpretada por Caetano Veloso, cantor que predominou na trilha sonora do desfile, além de Tchaikovsky, frevo, tango e bolero.

O “show” de Fraga começou em silêncio. A bailarina Ana Paula Cançado, do Grupo Corpo, surgiu no meio da passarela, sentada em uma cadeira, empunhando um acordeom – uma referência ao espetáculo Cravos, de Pina Bausch. Depois de se movimentar lentamente até o fim da passarela, ouviu-se a música, preparação para a entrada das modelos. Com elas, a surpresa: todas tinham o rosto coberto por uma peruca e, na nuca, traziam uma máscara (o rosto de Pina).

As costas viraram frente e a frente virou costas. “Resolvi virar a cabeça porque era exatamente isso que Pina fazia comigo. Desde a primeira vez, com Cravos, sempre que via um espetáculo dela saía com a cabeça virada. Essa é a desconstrução a que me refiro. Pina criava a partir do nada. E eu posso fazer roupa a partir de um saco plástico.”

Na passarela, a provocação se traduziu em silhuetas amplas, calças largas. Os comprimentos também variavam. Os casacos ganharam bicos, lembrando casacas. Também perderam mangas, entre tantas outras versões que, ao longo do desfile, foram revelando o avesso do avesso. Camisas que na frente pareciam simples regatas se transformavam em coletes com cravo na lapela nas costas. Vestidos que deixavam só as canelas de fora tinham mangas-presunto, marca da década de 40, quando nasceu Pina.

“Não faço moda pensando em tendência. Esta é a graça. Recortar, sugerir novos ângulos para algo clássico é uma forma de provocar, de rever conceitos”, disse Fraga. No fim, a bailarina Ana Paula fechou o desfile. “Ela é minha Pina. É minha inspiração.”

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