O ilustrador e escritor Roger Mello, de 48 anos, viveu dias enlouquecedores após a conquista do Prêmio Hans Christian Anderson – espécie de Nobel da literatura infantil e juvenil -, anunciado em março, na Feira Internacional do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha.

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Em 48 horas, 12 países já haviam manifestado interesse pelos seus livros. Até outubro, data do congresso do USBBY (United States Board on Books for Young People), terá uma extensa agenda, recheada de feiras, convenções e lançamentos. Agora, Mello está no Japão para a inauguração de uma retrospectiva de sua carreira, no Chichiro Art Museum, de Azumino. Depois, vai para a Coreia do Sul, onde fará uma exposição ao ar livre em um parque semelhante ao nosso Inhotim. O Líbano e o México são as paradas seguintes.

O interesse é facilmente compreendido. Concedido pela Organização Internacional para o Livro Juvenil (IBBY, sigla em inglês) a cada dois anos desde 1958, o Hans Christian Anderson foi dado raríssimas vezes a autores do Hemisfério Sul. Havia chegado ao Brasil duas vezes – na categoria texto, com Lygia Bojunga (1982) e Ana Maria Machado (2000) -, mas nunca a um ilustrador. “A premiação rompeu com o eurocentrismo”, festeja.

Reconhecido por usar cores fortes e quentes e pelo traço cheio de dramaticidade, Mello mergulhou nas lendas e histórias do folclore brasileiro. Formado em Desenho Industrial e Programação Visual, trabalhou na Zappin, com Ziraldo, fez desenho animado, vinhetas para a televisão e também peças para teatro.

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Colecionador de prêmios, ganhou grande projeção em 2002, quando seu livro Meninos do Mangue arrebatou as mais importantes premiações do ano, entre eles dois Jabutis e os prêmios da Câmara Brasileira do Livro e da Fondation Espace Enfants (FEE), na Suíça. Também publicou Todo Cuidado É Pouco, Cavalhadas de Pirenópolis e Maria Teresa, entre outros títulos.

Autor de um trabalho fortemente marcado pelo Brasil, Mello prefere não falar de uma ilustração tipicamente brasileira. “A arte não ganha com territorialismo. O perigo de irmos atrás de uma arte brasileira é achar uma média aritmética entre a fronteira do Uruguai e o Amapá. A gente é plural, mas também temos o direito de fazermos, se quisermos, o que na arte se convencionou chamar de universal”, afirma.

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Restrito

Apesar dos livros publicados em vários países, Mello vê o mercado internacional fechado para a ilustração brasileira. “Não sei exatamente o por quê”, diz. Mello afirma que o fato de Lygia Bojunga e a Ana Maria Machado terem ganho o “Nobel” na categoria escritor abriu o mercado para a literatura brasileira, mas não para a ilustração. “O curioso é que, a princípio, parece que a ilustração não precisa de tradução – o que não é necessariamente verdade. Além disso, os estrangeiros às vezes se assustam com nossa paleta de cores, acham que é saturada. Mas os espanhóis também saturam e nem todos os alemães e ingleses usam cinza.”

Contra o estereótipo, Mello defende o aprofundamento. “Se a criança vê apenas imagens estereotipadas, ela não consegue sair do preconceito. O estereótipo é inimigo da profundidade. Quanto mais você se aprofunda em um tema, menos você vai estereotipá-lo.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.