Roehler jura que não quis ofender o Brasil

Berlim (AE) – Oskar Roehler jura que não quis ser ofensivo com o Brasil. O que ele diz sobre o País em Partículas elementares está no livro de Michel Houllebecq em que ele se baseou. O filme, como o livro, trata de dois irmãos e suas atitudes em relação ao amor. Um é cientista e pesquisa formas artificiais de reprodução humana sem contato sexual. O outro é obcecado pelo intercurso, mas não dá muita sorte com as mulheres. uma delas, que o troca por um sujeito que quer dançar o samba, ele diz que o Brasil é um lugar de traficantes e prostitutas (a palavra é mais dura) aidéticas. "Michel escreveu isso", justifica-se Roehler. Pessoalmente, ele diz que simpatiza com o Brasil e achou a definição romântica.

O filme está sendo muito discutido em Berlim. O próprio livro de Houllebecq, embora premiado, está longe de ser uma unanimidade e é muito contestado na França. Houllebecq é um crítico social intenso e um escritor poderoso, mas também é manipulador e pessimista. Roehler não leva esse pessimismo até o fim. O filme meio que faz um arranjo, à maneira de happy end. O repórter aproveita para perguntar, se ele mudou tanta coisa na adaptação, por que foi fiel justamente na observação preconceituosa sobre o Brasil? Ele acha graça e pede desculpas. O repórter pede que ponha as desculpas no próximo filme. A propósito, vai ser de novo sobre sexo, esse tema que obceca parte do novo cinema alemão? "Não, pretendo fazer algo diferente", diz Roehler. Um conto de fadas? – o repórter insiste. "Sim, mas com cenas de sexo", o diretor retruca, e acrescenta. "Não confio em quem não gosta de sexo."

O tema tem estado presente em muitos filmes aqui na Berlinale. Após a mulher vítima de estupro no belo Grbavica, da cineasta da Bósnia Jasmila Zbanic, veio o estuprador de Free Willie, do alemão Matthias Glasner. O filme tem um ator excepcional, Jurgen Vogel, o melhor, até agora. A primeira parte de Free Willie é muito boa. O cara comete vários estupros, é preso e passa nove anos na cadeia. Solto, tenta recomeçar a vida mas a adaptação é difícil. Ele pratica artes marciais. Luta contra um inimigo imaginário – na verdade, ele mesmo. O apelo erótico está em toda parte, em outdoors, na TV. Uma mulher passa pelo atormentado protagonista usando uma camiseta decotada, na qual está escrito Brasil. A primeira parte é realmente maravilhosa; a segunda (o filme tem três horas) vira filme de horror, de tão horrível, quando ele se envolve com uma mulher meio pirada, não tem estrutura para aceitar certas coisas que ela faz e volta aos estupros.

É exatamente o contrário de Invisible Waves, co-produção de Hong Kong, da Coréia e da Tailândia, com direção do tailandês Pen-Ek Ratanaruang. O filme é um noir. Conta a história desse homem que comete um assassinato e foge, ingressando num verdadeiro pesadelo. Começa pelo fim, quando ele aponta um revólver para um sujeito que a gente não vê. Ao cabo das suas desventuras no estrangeiro, o dublê de cozinheiro e assassino volta a Macau para se vingar do homem que o contratou para matar a mulher dele. O filme é muito interessante, mas a meia hora final é maravilhosa, cheia de mistério e sutileza e com um pouco daquela poesia meio indecifrável de Doença tropical, que tanto sucesso fez na mostra, há dois anos.

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