Existem dois Rodrigo Maranhão: o integrante do Bangalafumenga, banda da qual é fundador e que ajudou a dar cara nova ao carnaval de rua do Rio, reunindo dezenas de milhares de pessoas por apresentação, é um deles. O outro é o compositor, já gravado por Maria Rita, Roberta Sá e o português António Zambujo, e que, como cantor, desde 2006 lança CDs autorais inspirados e inspiradores. O segundo se apoia financeiramente no primeiro. Ao menos até aqui, não parece haver conflito de interesses.

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“Tem gente que brinca que são dois artistas diferentes. O Zé Nogueira (produtor de seu segundo disco, Passageiro, de 2010) fala: ‘quando juntar os dois, você acha a sua música'”, diz Maranhão, em entrevista sobre o CD Itinerário, o terceiro de uma linhagem das mais valorosas da nova MPB. “Para mim, é importante estar financeiramente tranquilo para poder fazer meu disco sem criar grandes expectativas. É a carreira muito bem sucedida do Banga que paga a escola dos meus filhos, que me deixa viver bem de música e levá-los à Disney.”

Oposta à explosão carnavalesca, a qual vivencia há 16 anos, a introspecção do compositor resulta singela em Maré, já gravada por Zambujo, amigo próximo: “Uma canção chega assim/tão perto, tão pertinho/ de fazer cafuné/ pegar fruta no pé/ repousar meu sonho no teu corpo/ num abraço sideral. “Maria da Graça, escrita depois de um show de Gal Costa, fala do canto que “é mar/ chuva forte na cara”. É música que parece nascer facilmente, e que soa familiar mesmo à primeira audição.

A brasilidade que é marca do itinerário de Maranhão está em todo o CD, gravado entre companheiros de trajetória: a seu violão somaram-se a sanfona de Marcelo Caldi, as sete cordas de Nando Duarte e a percussão de Pretinho da Serrinha. “Eu queria o samba, o xote, o baião, o que eu sei fazer melhor. Os dias de gravação foram de muita luz. Minha galera eu já achei. São pessoas que estão bem juntas mesmo em silêncio.”

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Num tempo em que grandes intérpretes se lamentam da falta de novos compositores para cantar – Mônica Salmaso declarou recentemente que “a música popular brasileira hoje está pobre e nivelada por baixo” e Zizi Possi, que não encontra “nas poesias nenhum reflexo daquilo que estamos vivendo” – Maranhão, já premiado como compositor mas segue fora do mainstream, se recusa a fazer coro com os descontentes.

“Eu não tenho pretensão de ser vítima. Minha música reverbera tanto quanto uma empresa familiar num mundo capitalista. Gosto de falar do meu quintal”, compara, aos 44 anos, mais de 20 como profissional. “As pessoas têm muita necessidade de achar que os músicos que não estão em evidência total é um cara frustrado. Eu digo: não! Vivo bem de música e não necessariamente tenho que ser uma celebridade.”

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