O violeiro Roberto Corrêa tem 26 anos carreira, 16 discos solo e em parceria, apresentações e oficinas por todo o Brasil e em mais 29 países. Nesta trajetória publicou o primeiro livro sobre a viola caipira no Brasil e um pioneiro método para o ensino do instrumento.
Paralela a estas realizações está a história deste artista mineiro-brasiliense, nascido na cidade de Campina Verde, no Triângulo Mineiro, que foi para a capital federal estudar física e virou músico.
Em seu novo disco solo, Corrêa fala de episódios que marcaram a sua vida. Em voz e viola apenas, Temperança é um disco de canções. Gravadas sem dobras e sem efeitos, Corrêa apresenta 18 composições próprias com poesias suas e de parceiros.
Um único solo instrumental encerra o disco, a faixa A morte. No repertório e na interpretação, o disco apresenta o cantador-violeiro desnudo, na lida com os mistérios de sua arte.
Ao se descobrir violeiro e depois de se formar como físico na Universidade de Brasília – UnB, Roberto aceitou a música e a viola como um sacerdócio. Decidido a tornar-se um virtuose da viola caipira engendra pesquisas de campo, muito estudo e desenvolvimento de técnicas. Anos mais tarde, e com a carreira já consolidada, descobre ser neto de violeiro, que tem sua morte precoce associada a uma moda-de-viola.
A sina de violeiro, a ideia de escolher ou ser escolhido pela arte (pela música, pela viola), são temas que aparecem no disco, como na faixa Pacto. O CD também traz parcerias com o avô violeiro, que deixou letras de suas composições registradas em um livro de conta-corrente, como Triste hora foi aquela, Eu estava arretirado, Chora violinha, chora. São também parceiros de composições os poetas Hermínio Bello de Carvalho na Moda de Gregório e Fernando Mendes Vianna em Rosa-maga e Coração verde cavalo.
O disco traz ainda o enfrentamento de Roberto com a morte, quando um tumor no cérebro começou a afetar sua área motora. Este enfrentamento passou pelo fortalecimento de suas escolhas, desenvolvimento de sua espiritualidade e a produção do CD Uróboro (1994), no qual, como em um recital instrumental solo, Corrêa apresenta 21 composições suas para viola caipira e viola de cocho.
“Se posso morrer logo, vou deixar registradas minhas composições o mais valioso de mim”, disse. Com a saúde restabelecida Roberto viu seu Uróboro atingir o sucesso.
No início era preciso desbravar caminhos para o instrumento, provar suas potencialidades, vencer preconceitos. Roberto se fez versátil na carreira atuando como intérprete virtuoso, pesquisador e professor de viola.
Como músico, sua versatilidade pode ser verificada nas parcerias que vem estabelecendo com artistas de diferentes segmentos da música brasileira, como quando atua como solista junto a orquestras, como intérprete de clássicos regionais com a cantora Inezita Barroso, como criador de vanguarda junto ao rabequeiro pernambucano Siba, no recém lançado CD Violas de bronze.
Temperança traz mais uma vez, de forma intensa, o compositor. Disco difícil de classificar, apresenta temas que vão além do regional, com a sonoridade moderna da antiga viola caipira.
Roberto diz mais uma vez o que tem para dizer. Como violeiro, como homem que contempla sua trajetória e suas escolhas, e como artista “renascido e libertado, pleno, vasto enfim”.