Pioneira no sertanejo feminino, a cantora Roberta Miranda, 65, se prepara para voltar aos palcos após mais de um ano e meio sem fazer shows presenciais devido à pandemia. Ela retorna celebrando 35 anos de carreira com o espetáculo “My Life”, dia 20 de novembro, no Tom Brasil, em São Paulo.
Roberta vai apresentar no show sua trajetória como cantora desde os tempos de crooner até a consagração pelo público como a rainha da música sertaneja. Ela vai interpretar “Cálice” (Chico Buarque) e grandes sucessos de sua carreira, como a canção “Majestade, o Sabiá”, composta por ela e gravada e em 1985 pelo cantor Jair Rodrigues e pela dupla Chitãozinho e Xororó.
A artista afirma que o diretor teatral Jorge Farjalla captou toda a história de vida dela e a colocou em um show diferenciado de uma forma que ninguém nunca viu. Amanda Veiga –filha de Tom Veiga que fazia o Louro José– vai interpretar a cantora jovem quando ainda trabalhava cantando na noite.
“É um show que conta a minha história desde quando eu trabalhava nos bares, como eu surgi como compositora até o momento de ser consagrada como a rainha da música sertaneja”, explica.
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Neste retorno aos palcos, Roberta pretende homenagear a cantora Marília Mendonça, que morreu aos 26 anos em um acidente aéreo, em Minas Gerais, no dia 5 de novembro. Ela vai interpretar a música “Flor e o Beija-Flor”, composta por Marília e Juliano, que foi cantada no velório da artista. “Não cheguei a cantar junto [com a Marília], mas foi uma música que me tocou muito o coração”, afirma Roberta.
A morte de Marília foi um choque muito grande para Roberta, que foi levada por uma amiga ao hospital com um pico de pressão alta. Para Marília, Roberta sempre foi uma fonte de inspiração e a responsável por abrir caminho para outras mulheres na música sertaneja. Com o tempo, as duas passaram a ser amigas e Roberta via muito dela na cantora.
“Nosso encontro foi muito lindo no palco, a gente chorou muito, tanto eu quanto ela. Eu vi ali uma sementinha minha, é como um legado”, diz Roberta.
Roberta revela que em um primeiro momento não queria “de jeito nenhum” cantar a música “Infiel” em homenagem a Marília no encerramento do Fantástico (Globo), dois dias depois da morte da cantora. Ela afirma que tinha “pavor de estar ali em um momento tão frágil”, mas acabou convencida.
“Eu acho que eu tinha que estar ali em outra situação, mas o pessoal falou: ‘Roberta achei lindo você homenageá-la, você é uma referência para ela'”, conta a cantora.
Quem vê o DVD “Os Tempos Mudaram” (2017) entende o carinho de Roberta por todas as cantoras do chamado “feminejo”. Na gravação do projeto, que reuniu todas as cantoras da nova geração do sertanejo, ela conheceu Marília Mendonça. “Nosso encontro foi muito lindo no palco, a gente chorou muito, tanto eu quanto ela. Eu vi ali uma sementinha minha, é como um legado”, diz Roberta.
Na gravação do DVD, as artistas cantaram junto com a rainha da música sertaneja a canção “Majestade, o Sabiá”. Roberta beijou cada uma das cantoras na testa como se fosse uma mãe dessa nova geração, que ela chama carinhosamente de “legadinho, estrelinhas e sementinhas”. “Eu me sinto orgulhosa de ter lutado pela voz feminina e de ver as meninas de uma forma que eu sempre quis ver.”
Antes da volta aos palcos, Roberta desabafa que passou por dias muito angustiantes devido a toda a situação provocada pela pandemia e a perda de pessoas próximas para a Covid-19. Ela teve, inclusive, que aumentar a dose do remédio para a síndrome do pânico. “Chorava muito, ficava triste. Depois, foi obra em cima de obra, fazer música, fazer clipe. Então, foi também muito produtivo.”
Em maio deste ano, a cantora lançou em seu canal no YouTube o videoclipe da música “Bom Dia Minha Terra”, retornando às origens das suas primeiras composições que tinham a natureza como tema. As cenas no clipe foram registradas em uma fazenda na cidade de Cássia dos Coqueiros, interior de São Paulo. “Eu digo que depois de mais de 30 e poucos anos Deus me deu essa inspiração [de compor essa música].”
Com mais de 700 composições ao longo da carreira, Roberta lançou em outubro a música “Eu Tive uma Infância Linda”, composição assinada pela cantora e três fãs – Dilma Leandro, Narrimann Gaigher e Michele Ferreira. Ela explica que fez uma live nas redes sociais e eles colaboraram com ideias que foram transformadas em trechos e incorporados à música.
“O resultado ficou maravilhoso e estou feliz demais por apresentar meus fãs como coautores dando a eles uma oportunidade de obterem uma renda extra nesse momento em que todos ainda vivemos os reflexos da pandemia.”
Nascida na Paraíba, Roberta Miranda se mudou aos oito anos para São Paulo com os pais e os três irmãos, que se tornaram mais tarde professores. Ela concluiu o Ensino Médio, mas preferiu seguir na música contra a vontade dos pais, que sonhavam que sua única filha mulher se tornasse professora.
A cantora trabalhou 14 anos em bares e casas noturnas até alcançar a fama. Nesta época, Maria — verdadeiro nome da cantora — passou a usar o nome artístico de Roberta Miranda. Ela também trabalhou como maquiadora e assistente de estúdio para pagar as contas, comer e poder continuar a compor músicas.
O reconhecimento como compositora veio em 1985 quando ofereceu a música “Majestade, o Sabiá” para uma gravadora. Nesta época, ela já tinha feito 400 composições. “Eles gostaram muito e resolveram gravar [a música]. Foi um super sucesso e Jair Rodrigues vendeu quase um milhão de discos.”
O primeiro disco da cantora foi lançado em 1986 e em pouco tempo as músicas “Meu Dengo”, “Chuva de Amor” e “São Tantas Coisas” viraram sucesso. Ela se tornou a primeira artista da história da música popular brasileira a vender mais de 1,7 milhão de cópias no disco de estreia. De lá para cá, foram lançados 20 álbuns e seis DVDs.
“Depois de tanto me digladiar com o machismo, o venci às custas do meu talento e do desafio de dizer uma frase de extrema simplicidade e de grandes implicações: ‘Não é fácil dizer eu quero'”, diz Roberta.