A nova temporada dos cinco humorísticos da Rede Globo indica mudanças no gênero. Há uma segmentação de públicos mais definida e a chegada de uma nova geração de comediantes. Zorra total, Sob nova direção, A diarista, A grande família e Minha nada mole vida voltam em quatro dias da semana, com atrações bastante diferentes umas das outras. Luiz Fernando Guimarães comanda este último nas noites de sexta, herdeiro do humor mais sofisticado de Os normais.
Minha nada mole vida retorna com as histórias do apresentador de tevê Jorge Horácio. Tem o humor mais intelectualizado de todas as atrações globais, com um texto ágil que usa e abusa de duplos sentidos, ironias e mal-entendidos, reforçados por uma edição e movimentos de câmera originais. A principal atração, porém, continua sendo o estilo verborrágico e descontrolado do personagem de Luiz Fernando Guimarães. O ator faz de cada uma de suas aparições um show de espontaneidade que beira o non-sense e revela uma certa dose de insanidade no comportamento humano em geral. Pedro Paulo Rangel, Davi Lucas e Maria Clara Gueiros secundam talentosamente o protagonista.
A mesma atriz também está em Zorra total, show de esquetes comandado pelo diretor Maurício Sherman. Como vários artistas do programa, ela pertence a uma nova geração do teatro surgida a partir dos anos 90. Além de Maria Clara Gueiros, também estão no humorístico Fernando Caruso, da peça Z.E. – Zenas emprovisadas, e Rodrigo Fagundes e Samantha Schmutz, de Surto, entre outros. Entretanto nenhum deles alcança na tevê a mesma performance que exibe nos palcos. Sem o furioso improviso do teatro e com a expressão corporal reduzida pelo enquadramento estático do programa, muito da graça desses ótimos atores fica reduzido a bordões repetidos a cada fim de semana e que procuram assegurar pela simplicidade uma base de espectadores mais ampla e diversificada nas noites de sábado.
Mesmos humoristas com uma formação completamente diferente, como os engenheiros e os cartunistas do Casseta & planeta urgente, nas terças-feiras, terminaram cedendo ao bordão, ao lado de trocadilhos e imitações de celebridades. O brevíssimo tempo do programa no ar – pouco mais de meia hora, com anúncios – sugere um certo cansaço do humor ácido, debochado e surpreendente que marcou o melhor desta trupe. A diarista, que é exibido em seguida, pode ter este ano sua última temporada, também o caso de Sob nova direção, de Heloísa Perissé e Ingrid Guimarães.
Com 39 pontos de audiência, A grande família se mantém nas noites de quinta como a série de humor mais bem-sucedida da tevê brasileira. O que se explica por várias razões. Primeiro pelo argumento, os problemas de uma família de classe média baixa igual a milhões delas em todo o país. Depois pelo brilhante elenco, com Marco Nanini, Marieta Severo, Guta Stresser, Pedro Cardoso e Lúcio Mauro Filho, no núcleo central. E, finalmente, pelo roteiro, que nesta temporada soube agregar novas situações que correspondem às transformações da família brasileira, como filhos criados longe dos pais, parentes agregados, relações abertas, separações e outros problemas. Uma afiada equipe técnica faz dos cenários e figurinos um prazer à parte.