A exemplo do paraibano Sivuca (1930-2006), a quem presta homenagem nesta quarta, 28, no concerto que faz na Sala São Paulo, às 21 horas, o acordeonista francês Richard Galliano é um multi-instrumentista que toca de Bach a Nino Rota, compôs igualmente para filmes e elevou seu instrumento à categoria dos clássicos, sendo o único acordeonista contratado pelo selo erudito Deutsche Grammophon. Tanto que vai tocar (com um quinteto de cordas) Bach e Mozart ao lado de peças de Piazzolla e Sivuca na apresentação desta quarta, cuja renda será revertida para tratamento de crianças com câncer assistidas pela Tucca em parceria com o Hospital Santa Marcelina.

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Galliano, aos 66 anos, já tocou com todo mundo que importa no mundo do jazz (Chet Baker, Charlie Haden, Gary Burton e Wynton Marsalis, entre outros), mas recentemente tem se dedicado a gravar os clássicos. Registrou um CD com peças de Bach, outro com composições de Vivaldi e este ano lançou o terceiro da trilogia erudita, dedicado a Mozart, reunindo suas obras mais populares, inclusive uma versão para o acordeão do concerto para clarinete do compositor austríaco, feita por ele mesmo.

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“Quando era pequeno, ouvia concertos como esse e lastimava a ausência de transcrições para meu instrumento”, conta Galliano, em entrevista exclusiva concedida ao Estado, na terça, 27, no hotel onde está hospedado em São Paulo. O acordeonista teve aulas de harmonia e contraponto no Conservatório de Nice e, sentindo as limitações do repertório do instrumento, desprezado e confinado aos salões de baile de província, decidiu fazer por conta própria a travessia entre gêneros.

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Seu encontro com Piazzolla foi, nesse sentido, uma epifania (ele também toca bandoneón). “Piazzolla sugeriu que eu me empenhasse em criar uma ‘nova musette’, da mesma forma que ele recriou o tango.” O gênero nasceu no século 17 como uma gavota e evoluiu no século 19 para a canção popular tipicamente francesa, que ele cultua. “Brassens, Montand, Piaf, Moustaki, todos eles exprimiam com emoção sentimentos muito particulares, que é, afinal, o sentido da música, como prova a canção Começar de Novo, de Ivan Lins.”

Galliano adora música brasileira, nomeando entre seus favoritos Villa-Lobos, Jobim, Gismonti, Hermeto e Sivuca. Não descarta gravá-los um dia. Afinal, já lançou meia centena de discos, inserindo o acordeão no mundo do jazz, ao qual não pertencia. Ele adora experiências novas.

Gravou, por exemplo, ao lado do tunisiano Anouar Brahem, um dos mais sofisticados músicos contratados do exclusivo selo alemão ECM. E dedicou um disco inteiro às trilhas compostas por Nino Rota, em especial cinco temas do clássico La Strada, de Fellini. “Tinha sete anos quando meu pai, que também era músico, me levou para ver o filme”, lembra. “Fiquei marcado pelo trompete tocado por Gelsomina (personagem de Giulietta Masina), desejando compartilhar com os ouvintes essas peças que marcaram meu espírito.” É até hoje sua referência das “coisas simples da vida”.

RICHARD GALLIANO

Sala São Paulo. Pça. Júlio Prestes. s/nº, tel.: 2344-1051. R$ 120 / R$ 300.

Quarta (28), às 21h

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.