O diretor Ricardo Waddington pegou o bonde andando. Ou melhor, a diligência… Afinal, Bang Bang era um antigo projeto do autor Mário Prata em parceria com Luiz Fernando Carvalho. Desde que foi concebido, há quase 20 anos, o projeto da dupla passou por diferentes fases. De seriado a minissérie, passando por programa infantil. Finalmente, por sugestão de Mário Lúcio Vaz, diretor- geral artístico e da Central Globo de Controle de Qualidade, virou mesmo novela – a próxima das sete da emissora. "Quando falamos em bangue-bangue, lembramos logo dos filmes do John Wayne e do Clint Eastwood. Mas teremos toda a liberdade do mundo para interpretar o gênero à nossa maneira", avisa.
Depois de anos dedicado às tramas urbanas de Manoel Carlos, como Laços de Família e Mulheres Apaixonadas, Ricardo está tendo a oportunidade de variar. Recentemente, dirigiu a sua primeira novela rural, Cabocla, de Benedito Ruy Barbosa. Depois, estreou à frente de uma minissérie de época, Mad Maria, do mesmo autor. Com Bang Bang, volta a dirigir uma comédia depois de quase uma década – a última foi Quatro por Quatro, de Carlos Lombardi, em 1994. No ano em que completa duas décadas de carreira iniciada em 1985 com Lua Cheia de Amor, ressalta que variar é a melhor coisa que pode acontecer a um diretor de tevê. "Em termos de evolução profissional, vai ser uma experiência riquíssima para mim", acredita.
P – O elenco de Bang Bang chama a atenção por conta de algumas escalações improváveis. De quem foi a idéia de escalar a modelo e apresentadora Fernanda Lima como protagonista?
R – A idéia foi nossa, da Globo. Ela passou por alguns testes e foi bem em todos eles. Acho que ela vai se dar muito bem na novela e acho também que vamos nos dar muito bem. Além disso, não é a primeira vez que lanço gente nova como protagonista. Já tive várias experiências legais nesse sentido. A última delas, inclusive, foi com a Vanessa Giácomo em Cabocla.
P – Mas você não fica temeroso, por exemplo, de escalar o cantor Paulo Miklos, do Titãs, como Kid Caddilac, o vilão da história?
R – Absolutamente. Escalo personagens e não atores. A minha maior preocupação é ter pessoas adequadas aos papéis e não grandes nomes no elenco. Quando não tenho o ator adequado, pego a pessoa e faço o ator. Em Bang Bang, eu tinha um personagem inspirado no Sam, de Casablanca. Na mesma hora, me veio o Luiz Melodia à cabeça. Podia procurar um ator negro que soubesse tocar piano. Mas por que não o Luiz? Resolvi arriscar…
P – A exemplo de Que Rei Sou Eu?, do Cassiano Gabus Mendes, Bang Bang também vai fazer uma sátira aos dias de hoje?
R – O tempo todo. Na verdade, teremos plena liberdade para interpretar o gênero à nossa maneira. A novela vai ter toda uma leitura contemporânea/pop do "western". Vamos gravar em San Pietro de Atacama, no Chile, as cenas de deserto, mas vamos também satirizar o atual momento político brasileiro. Em Albuquerque, teremos medidas provisórias, horário político eleitoral, essas coisas…
P – Dos grandes diretores do gênero, como John Ford e Sergio Leone, qual é o seu favorito?
R – Tenho dois: o Sergio Leone, que é responsável por uma narrativa mais clássica do "western", e o Quentin Tarantino. Se você observar bem, todos os filmes do Tarantino são em cima de faroeste. Mesmo os mais contemporâneos, como Kill Bill. Isso inclui até a trilha sonora. O Tarantino se apropria da linguagem do "western" para narrar histórias atuais. E sempre muito interessantes…