Revista deturpa informações sobre Terra Indígena

A revista Veja de 14 de março de 2007 publicou a matéria Made in Paraguai, que deixou perplexos antropólogos e todos os que conhecem de perto a população indígena Guarani. Maria Dorothea Post Darella, do Museu da UFSC – Universidade de Santa Catarina, antropóloga que acompanha o processo de regularização fundiária na terra indígena de Morro dos Cavalos – SC, em cuja tese de doutorado, em 2004, tratou do tema Territorialização Guarani no litoral de Santa Catarina, Brasil, elaborou um dossiê contendo cartas de pelo menos 50 profissionais repudiando a reportagem, que foi enviado à Veja e à Procuradoria da República.

Todos os participantes do dossiê, inclusive eu, repudiamos também a acusação de que o trabalho da antropóloga Maria Inês Ladeira seja uma fraude. Seu trabalho é reconhecido nacional e internacionalmente, pois trabalha há quase 30 anos com comunidades guaranis além de ter realizado pesquisas acadêmicas em várias aldeias do Sul e Sudeste durante o mestrado e o doutorado.

Em resposta à edição da matéria, o CTI – Centro de Trabalho Indigenista – informou em seu site que ?no final de fevereiro de 2007, um repórter da Veja remeteu, por e-mail, uma série de questões tendenciosas à coordenadora do GT – Grupo Técnico de Identificação e Delimitação da TI -terra indígena Morro dos Cavalos, Maria Inês Ladeira, antropóloga do CTI, baseadas em informações e documentos deturpados? e que ?a matéria superou as piores expectativas possíveis: preconceitos raciais e étnicos, além de falsidade deliberada em imputar à antropóloga a autoria de atos e afirmações inverídicos?.

Além de recomendar ao repórter a leitura dos documentos relativos aos procedimentos de demarcação e a consulta aos demais profissionais envolvidos, Maria Inês, quanto à alegação do repórter de ?colocar? os indíos no Morro dos Cavalos, respondeu: ?Cumpre notar que os povos indígenas não são meros objetos que são colocados em aldeias ao sabor dos desejos de antropólogos e nem estes possuem interesses particulares nas terras indígenas. Ao contrário, procuram cumprir uma tarefa, cada vez mais difícil, de ampliar o entendimento e a compreensão sobre outros povos e sociedades cujo reconhecimento dos direitos históricos territoriais torna-se imprescindível para continuarem vivendo.?

Outras inverdades da matéria: a) o povo embiá citado não existe. Explica Darella: ?Carijó, Mbyá, Kaiová, Nhandeva, Tambeopé, Paim, Chjiripá, Apapocúva dizem respeito ao povo Guarani, o maior povo indígena do Brasil?; b) os Guaranis não são ?índios paraguaios?, mas guaranis. Eles já habitavam os territórios que foram posteriormente demarcados como Argentina, Uruguai e Paraguai; c) sobre a presença indígena no território Morro dos Cavalos, ?há registros de sítios e evidências arqueológicas guaranis em toda a região, bem como registros orais de famílias guaranis que ocupavam a região há décadas, algumas de forma ininterrupta e outras temporariamente?, explicou Darella.

O cacique Artur Benite manifestou que seu povo se sente ?gravemente insultado e desrespeitado pelas calúnias escritas na matéria, que contém racismo e imoralidade, difamando a autenticidade da história indígena Guarani no Brasil?. Não há dúvida de que a matéria é uma investida contrária à demarcação da terra indígena. Outras informações: www.trabalhoindigenista.org.br

Zélia Maria Bonamigo é jornalista, mestre em antropologia pela UFPR, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná
zeliabonamigo@uol.com.br

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