Revelando Brasis: filme sobre tropeiros será exibido em festival da Europa

Há mais de 50 anos, tropas de homens montados em jumentos levavam cargas de Carnaubeira da Penha, em Pernambuco, para vender nas cidades. Pelo caminho, os tropeiros faziam um tipo de café curioso: misturavam um pouco de água, café e rapadura para adoçar. E jogavam três pedras. Era o chamado café de pedra. Lá de Carnaubeira da Penha, Arthur Gomes dos Santos, um comerciante de 50 anos, filho de um tropeiro, contou essa história em um filme para todo o Brasil e, agora, para o mundo.

Artur foi uma das 40 pessoas selecionadas pelo Ministério da Cultura para participar do programa Revelando os Brasis. A idéia era possibilitar condições às pessoas que não vivem nos grandes centros para produzirem cinema e não apenas assisti-lo.

Depois de passar por vários festivais no Brasil, chegou a hora desses filmes serem mostrados também no exterior. A partir desta quinta-feira (13), eles vão fazer parte da maior mostra itinerante de cinema brasileiro na Europa, chamada Brasil Plural. "Vai ser uma experiência, a gente não sabe ainda como o público vai reagir porque trazem uma estética diferenciada dos demais filmes. A gente quer abrir esse espaço e gerar polêmica, discussão", adianta coordenadora da Mostra, Márcia Paraíso. Até 15 de janeiro, o Brasil Plural vai levar 26 filmes à doze cidades da Alemanha, Áustria e Suíça.

Entre os filmes, está "Os Tropeiros", de Arthur Gomes. Ele descobriu que as pedras eram usadas para esquentar o café. A aventura de contar essa história, em um filme de apenas 15 minutos, não acabou. Pelo contrário, gerou idéias para um próximo capítulo do sonho de ser cineasta, que virou realidade. "Não consegui contar a história dos tropeiros na sua amplitude. Contei apenas dos tropeiros de Carnaubeira da Penha. A história dos tropeiros é bem mais ampla, eu continuo pesquisando e com desejo muito grande de fazer um trabalho maior. Ainda não sei que meios vou usar para fazer, estou sonhando com algum concurso", diz o novo cineasta.

Um dos entrevistados do filme é o próprio pai de Arthur, o tropeiro Alcindo Gomes, de 80 anos. Por meio da experiência vivida por seu pai, Arthur acabou atingindo justamente o objetivo do programa Revelando os Brasis. "Ele nunca foi filmado e nem sabia que a história dele, de tangedor de jumento, tivesse alguma importância pra alguém. Esse projeto, Revelando os Brasis, foi além das expectativas porque conseguiu fazer isso, de repente, três mil pessoas assistem e aplaudem uma história que ele não sabia que tinha interesse pra alguém. A gente se emociona e chora cada vez que assiste", declara Artur Gomes.

Quando questionado sobre o que mudou em sua vida, a resposta vem na ponta da língua: "Eu acho que melhorou minha auto-estima porque eu sempre olhei pra televisão, pro cinema como uma coisa que eu jamais poderia participar apesar de gostar muito de assistir. Nunca imaginei que poderia fazer alguma coisa pra alguém assistir. Tem me empolgado, eu fico o tempo todo sonhando em filmar alguma coisa", ressalta o diretor do filme.

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