Há muito eu não o via. Aliás, nem sabia se estava vivo ou perambulando como zumbí pela “Boca Maldita”, área curitibana que já teve seus dias de glória, que se acabaram com Anfrísio Siqueira, que também já se acabou. Hoje, as opiniões da “Boca” sobre política, economia, finanças, chifres e adultérios têm a profundidade de um pires. No momento, a “Boca” só serve para emissoras de televisão mandar repórteres canhestros e despreparados fazer entrevistinhas chôchas que não comprometam os donos das emissoras.
Certa feita Reveillon me contou a origem de seu nome. O caso ocorreu num dia 31 de dezembro quando seu pai, de porre, chegou em casa, fantasiou as frondosas pernas da vedete Renata Fronzi e mandou vêr no tribufu doméstico. Deu no que deu, ele nasceu em setembro, nove meses depois, no dia 7 e recebera aquele nome em homenagem à carraspana do pai que, homérica, provocara a transa insuspeitada.
Dizia-me que todo ano comemorava o seu aniversário junto com a Independência do Brasil coisas que o país está buscando desde 1822.
Quando chegou a Curitiba, ainda rapazinho, Reveillon quis fazer um curso de Comunicação na PUC, mas desistiu ao perceber que curitibano não gosta de se comunicar. Morador há 18 anos num prédio central ele não conheceu até hoje o vizinho de apartamento. Só trocaram, às vezes, grunhidos sociais em elevador. Reparou que, no prédio, existem 4 moradores que trabalham na mesma empresa, saem no mesmo horário, seguem pelo mesmo caminho, voltam na mesma hora… cada um com seu carro, que estacionam um ao lado do outro no pátio da empresa.
Reveillon notou, há tempo, que a propalada genialidade dos publicitários curitibanos sempre é sufocada por profissionais de fóra, que vêm por aqui fazer campanhas políticas. E acha uma graça comerciais de supermercados sempre feitos por marmanjos bocudos, mostradores de dentes e sorrisos de gêsso e que não convencem beduíno a comprar água quanto mais as donas de casa.
*************
Mais cético e áspero que o crítico Agripino Grieco e sua parceira de críticas Bárbara Heliodora, Reveillon me disse que não torce por nenhum time paranaense. Ele acha que aqui as bolas são quadradas e rolam pelos gramados com extrema dificuldade.
Quanto às campanhas políticas em andamento para prefeito e vereadores, Reveillon fêz uma curiosa descoberta: Curitiba é a capital de Bangladesh tendo na periferia Serra Leoa, Ruanda Burundi, Burkina Faso, Angola, Moçambique e Etiópia.
As plataformas dos candidatos tentam dar aos eleitores curitibanos a idéia de que aqui está tudo por fazer, que nenhum prefeito já passado fêz qualquer coisa, foram todos incompetentes que se aventuraram na política por esporte ou desfastio encarando seus mandatos como castigo, uns ineptos.
Na ânsia de mostrar serviço futuro apontam mazelas em orquídeas e fingem saber do que é que Curitiba precisa. Fazem o jogo das candidaturas prováveis e não das candidaturas possíveis. Costumam prometer o que já existe.
Segundo Reveillon me disse, ele constatou que o curitibano não gosta de mudanças bruscas, de súbitas mudanças de rumos que alterem o establishment já sedimentado em seu tecido social. E lembra um detalhe: quando Jaime Lerner resolveu fechar a rua Quinze e pintar os táxis de uma só cor houve um terremoto de 8,5 graus na escala Richter que foi amenizado pelas passarelas dos ônibus que ganharam o apelido de “Detefon” mata tudo.
O eleitorado de Curitiba prossegue Reveillon enquanto me fila um cigarro não gosta que mexam com Curitiba. E repete o que disse o médico sul-africano George McGillis: “Se tivesse que morar no Brasil escolheria Curitiba. É a única cidade brasileira que funciona …”.
Quanto à reeleição de prefeitos passados ele, simplesmente, lembra Machiavel: “Em momentos de crise a tendência da massa é voltar-se para valores conhecidos”.
*************
Reveillon me conta que a Igreja Universal, campeã de marketing captativo, agora lançou a “troca de anjos da guarda”. Por uma taxa módica qualquer um pode trocar de anjo. Ele está pensando em trocar o seu Mizrael por um novo, acha que o Miz está velho, meio gagá, desde o dia em que não o avisou que o marido da mulher estava chegando pois cochilava no corredor. Anjo da Guarda surdo era só o que lhe faltava!
Ele me conta que, há pouco tempo, mudara de ramo. Até então, possuía uma “consultoria”, esse tipo de empresa que vende conversa, dá conselhos e palpites, faz sugestões de negócios, etc. Deu-se mal porque aconselhara um grupo grande de clientes a comprar ações do Banestado e do Banco Araucária, além de investir no Paraná Clube e no Consórcio Garibaldi do Tony Garcia.
*************
Decidiu que, considerando o ano de eleições, deveria virar marquetólogo, inspirado no Duda Mendonça e no Nizan Guanaes. Só não se lembrou de que estava em Curitiba.
Analisou cuidadosamente os candidatos a prefeito e optou por oferecer os serviços, simultaneamente, a três candidatos: Rubens Bueno, Mauro Moraes e Osmar Bertoldi, na convicção de que um deles iria ganhar no 1.º turno.
Percebeu que não seria bem assim quando seu velho Anjo da Guarda começou a aplaudir as escolhas. Achou melhor correr até um templo da Universal e negociar com um pastor a troca de Anjo. Por um preço módico, claro …
Wilson Silva
é jornalista e escritor