No livro Pensando a Arte, de 1988, o crítico e físico Mário Schenberg afirmou que Marcello Nitsche é “o mais pop dos artistas brasileiros”. “Ele disse que eu pegava melhor o espírito de São Paulo e o (Hélio) Oiticica, o do Rio de Janeiro, mas não tinha muita disputa, não. Fizemos até exposição juntos, a Nova Objetividade (Brasileira, de 1967)”, diz Nitsche, aos 72 anos. Criador de emblemáticas obras da década de 1960, como Eu Quero Você (1966) – pintura-objeto que representa uma mão inspirada no “slogan do Tio Sam” a apontar um dedo ensanguentado para o espectador – e o monumental inflável Bolha Amarela (1969), ele tem agora sua produção exibida pela primeira vez em uma retrospectiva.

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A mostra Lig Des, aberta nesta sexta, 19, para o público, não poderia ocorrer em outro local que não fosse a área de convivência do Sesc Pompeia, destaca a curadora Ana Maria de Moraes Belluzzo. A antiga fábrica transformada pela arquiteta Lina Bo Bardi em “espaço não convencional de convívio e cultura” contribui, considera, para “atualizar” a vocação urbana dos trabalhos do paulistano Marcello Nitsche.

Sendo assim, logo de início o visitante é recebido pela peça de 1967 que dá nome à exposição – Lig Des é feita de um tubo de chaminé ligado a uma bolha inflável de náilon vermelha enchida por um motor. “É um ready made de uma radicalidade absoluta sobre a automação, a mecanização”, afirma Ana Maria Belluzzo. Ao redor desse trabalho, outras criações do artista datadas dos anos 1960 apresentam sua linguagem pop inicial “totalmente ligada a um universo da cidade e à apropriação de elementos como sinais, a indústria cultural, histórias em quadrinhos, publicidade, coisas relacionadas ao surgimento da sociedade de consumo”, continua a curadora.

Trata-se de uma questão importante na trajetória de Marcello Nitsche. “Acho que os artistas de São Paulo dos anos 60 são diferentes do Rio porque aqui o processo de urbanização foi muito pesado, aqui não tem paisagem”, diz Ana Maria. Segundo a curadora, Nitsche foi diferente dos outros criadores pop de sua geração por sua “preocupação com a tecnologia”.

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Mas a retrospectiva, “sintética e pontual”, contempla muitas outras passagens essenciais da carreira do artista, ao mesmo tempo em que exibe o processo de criação de Nitsche por meio de páginas de seus inéditos cadernos (a concepção de suas Bolhas é um destaque), maquetes e vídeos.

Estão em Lig Des os filmes em super-8 de Nitsche (entre eles, Superfícies Habitáveis – Memorial 2, de 1974, feito com Flávio Motta, e Autorretrato, de 1976); suas obras em torno das paisagens (como as costuradas, dos anos 70) e das birutas; a menção às suas esculturas públicas (Garatuja, de 1979, para a Praça da Sé, é das mais importantes); assim como a famosa série das “pinceladas” – “a explosão do quadro”, define a curadora, em coloridas criações de objetos que remetem à “gramática” pictórica – apresentada pela primeira vez em 1981 em uma elogiada exposição na Galeria São Paulo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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