Vice-presidente sênior do Departamento de Operações Técnicas da empresa Universal, Michael Daruty é o homem por trás da restauração de clássicos como “Tubarão” e “A Lista de Schindler”, ambos de Steven Spielberg. “Schindler” começa a chegar nesta segunda-feira às lojas. A versão Blu-Ray do clássico de Spielberg ressurge como você nunca viu antes. A restauração não visava melhorar o que já estava nos trinques – a simetria audiovisual -, mas corrigir uma limitação da técnica do ano de 1993.

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Vinte anos não representam muito, e menos ainda numa arte pouco mais que centenária como o cinema, mas quando “Schindler” ganhou os principais Oscars do ano – e o primeiro de direção de Spielberg – ainda não havia tecnologia, apesar de todo o empenho da equipe que ele reuniu, para resolver um pequeno grande problema. Quem já viu se lembra da menina de vermelho que volta e meia irrompe no campo de extermínio dos nazistas, não necessariamente ligada às explosões de sadismo do brutal comandante Ralph Fiennes, mas com certeza para oferecer uma alternativa humana (poética) a elas. “Pouca gente notava isso, mas quando a menina se movia e passava por alguém, ou por um objeto, havia uma momentânea quebra do foco, e isso sempre foi motivo de incômodo para Steven. O problema foi resolvido. Dispomos hoje, finalmente, de tecnologia para fixar a cor em qualquer circunstância”, relata Michael Daruty numa entrevista por telefone, realizada no dia seguinte à entrega do Oscar para os melhores de 2012.

“A Lista de Schindler” e “Tubarão” são dois dos 13 filmes cujo processo de restauração Michael Daruty comandou, como parte da comemoração do centenário do estúdio. “Fizemos uma seleção dos 100 filmes que melhor representariam o espírito da Universal”, contou ele na entrevista. “Deles, selecionamos 13 para restauração.” “Sem Novidade no Front”, “Os Pássaros”, “Drácula” e “Frankenstein” (as versões de 1931), “A Noiva de Frankenstein”, “Confidências à Meia-Noite”, “Golpe de Mestre” e “O Sol É para Todos” são outros títulos clássicos que integram a lista. Mas justamente “Schindler” ocupa um espaço decisivo naquilo que Daruty chama de ‘legado do estúdio’.

“O cinema já se havia ocupado do Holocausto, mas nunca da forma como Steven abordou o assunto, centrando todo o drama em três personagens que são inesquecíveis, e mais ainda pelos atores que os interpretam. Liam Neeson como Oskar Schindler, o empresário que vai salvar judeus, Ben Kingsley como seu contador e consciência, ainda mais que ele também é judeu, e Ralph Fiennes como o odioso comandante nazista. O que há de mais impressionante neste último é que, por detestável que seja, é também sedutor. Ninguém desgruda o olho de Ralph, quando está em cena.”

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Uma história de segunda chance, de redenção, de volta para casa, todos temas caros a Spielberg. Um filme humanista, denso, que o espectador carrega pela vida. “Esse é o legado do estúdio, que “Schindler” engloba e sintetiza. Fizemos (na Universal) grandes filmes de entretenimento, mas aqui a humanidade e, portanto, a consciência histórica e política falam mais forte”. A restauração de cada título durou de três a seis meses, a um custo que variou de US$ 250 mil a US$ 500 mil. “Schindler” usou menos que os seis meses e o topo do custo. Como disse Daruty. “Não pensamos apenas em rentabilidade, ou no mercado, mesmo que o restauro seja com vistas ao lançamento das versões em Blu-Ray. O importante é como cada um desses filmes, e Schindler em particular, contam a história da Universal e da riqueza do estúdio em seus mais de 100 anos de existência.”

O próprio Spielberg, ao contrário do que ocorreu com “Tubarão”, participou da restauração digital de sua obra-prima, e só isso dá a medida da importância que ele também atribui a “A Lista de Schindler”. O filme foi escaneado para 6K, e depois rebaixado para 4K. O número reflete a resolução horizontal da imagem e isso quer dizer que o novo “Schindler” tem quatro vezes mais informação acumulada na imagem do que a melhor resolução média nas TVs digitais da atualidade. E Daruty ainda destaca os extras. “Temos um documentário com sobreviventes que torna o lançamento ainda mais forte.” E ele arremata que, se o centenário da Universal foi no ano passado, “Schindler” ficou para este ano para comemorar o aniversário do próprio filme. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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