Resgate da profundidade

Depois de interpretar personagens que exploravam seu charme e sensualidade – como o “bon vivant” Danilo, de Laços de Família, ou o sanguessuga Rodrigo, de O Beijo do Vampiro -, Alexandre Borges curtiu mais que nunca o estilo “família” de Cristiano, seu personagem em Celebridade. O ator até acha graça do ar “libidinoso” das fãs que sempre o abordavam nas ruas, mas confessa ficar mais lisonjeado quando o assunto das conversas com o público é a vida de seus personagens. “As pessoas vêm na torcida, querendo entender o drama dele. É uma abordagem diferente das que tive em outros trabalhos”, destaca. Ele não arrisca dizer, no entanto, se o correto jornalista vai mudar definitivamente a imagem de “bonitão conquistador” que o público fez dele. “Não sei o que vou fazer depois, né?”, despista, com um sorriso tímido.

Pela primeira vez numa novela de Gilberto Braga, não foi só a reação do público que Alexandre viu mudar em Celebridade. Para o ator, Cristiano foi um papel que o fez ir bem além do que estava acostumado na tevê. Em primeiro lugar, pela trajetória de mudança do personagem, que se livrou do vício da bebida e conseguiu reconquistar o êxito profissional. Mas, também, por explorar um tom bem diferente do restante da novela. “Tive de investir tudo na sensibilidade no meio de uma história com ritmo frenético, glamour, mídia, sucesso…”, justifica, com fala pausada e gestos comedidos.

Aos 38 anos de idade e pai de Miguel, de quatro, Alexandre não deixa dúvidas quanto a seu próprio apego à família. É só falar do trabalho com a esposa, a atriz Júlia Lemmertz, para o ator exibir um inconfundível brilho nos olhos. “Acho que conseguimos não ser previsíveis e emocionar as pessoas”, arrisca, sobre o casal Cristiano e Noêmia. O filho também é lembrado a todo momento. Tanto que o ator destaca a relação do jornalista com Zeca, interpretado com Bruno Abrahão, como um de seus aspectos preferidos no personagem. “Por meu próprio momento como pai, me apeguei muito à história dos dois. Adorei mostrar o amor e a cumplicidade entre um pai e um filho”, confessa, com indisfarçada emoção.

P –

Que balanço você faz de seu trabalho em Celebridade?

R –

Acho que não poderia ter sido melhor. A novela teve uma trajetória brilhante e o Cristiano é um personagem que me exige bastante como ator, me faz ir além do que estava acostumado. É bonito fazer um personagem com uma trajetória assim, com vários momentos de virada, vida nova, muitas coisas acontecendo… Isso sem contar a relação dele com o filho, que foi uma coisa à qual me apeguei muito, talvez em função de meu próprio momento como pai. Achei muito gratificante mostrar esta cumplicidade, este amor entre um pai e um filho. São tipos de emoção que eu ainda não tinha tido a chance de explorar na tevê.

P –

Por que você diz que o Cristiano exige mais de você que seus outros personagens?

R –

Pela própria trajetória dele, que me fez mostrar este lado da pessoa derrotada, entregue a um vício, deprimida, atormentada. Isso tudo me exigiu uma atenção muito grande, porque tive de valorizar a sensibilidade no meio de uma história em que as coisas acontecem em ritmo frenético. Os outros personagens envolvidos com glamour, mídia, sucesso, ou com as para se dar bem passando por cima dos outros, e ele ali, com aquela história triste, meio “pra baixo”… Isso tinha de ser muito bem colocado, na medida certa. E eu vinha de trabalhos que mexeram muito com a comédia, com uns toques de sensualidade. O Cristiano é mais realista, humano, sofrido, sensível, tive de procurar elementos diferentes dentro de mim.

P –

Como você encara a mudança do papel social do ator nesta “era das celebridades” retratada pela novela?

R –

Minha função é emocionar as pessoas, divertir, entreter, criar uma bagagem cultural, intelectual e de vida que me permita me aprofundar nos meus personagens. E pronto. Às vezes, alguns atores são mais mistificados, outros vivem levando “porrada” da imprensa. Eu venho de grupo de teatro, convivendo com pessoas que viajam, que gostam de festivais, gostam de estar no palco, de filmar, de se relacionar com as pessoas na rua, de ouvir a opinião delas. E a imprensa faz parte deste movimento. É claro que uma coisa é a sua relação com o público, e outra, é a imprensa mediando a sua relação com o público. Às vezes, esta ponte, dependendo do que enfatiza, da forma como é colocada, acaba passando uma idéia errada. Mas, para mim, o princípio de tudo é a paixão de fazer. Poderia ser que nada disso tivesse acontecido comigo, que eu não tivesse essa popularidade que cerca os atores de tevê. Pode ser que daqui a pouco acabe também. Não sei como vai ser o futuro. Mas sei que vou continuar fazendo meu trabalho, da mesma forma como comecei no teatro.

Quando o melhor vem depois

Trabalhar ao lado de Júlia Lemmertz já não é novidade para Alexandre Borges há muito tempo. Casados há 11 anos, foi nos bastidores de Guerra Sem Fim que os dois se conheceram e começaram a namorar. Depois disso, atuaram juntos ainda em Zazá, de 1997, na série Mangueira: Amor à Primeira Vista, que o Multishow exibiu durante quatro anos, e na novela O Beijo do Vampiro, de 2002. No cinema, fizeram Um Copo de Cólera, de Aloísio Abranches, e, no teatro, Eu Sei Que Vou Te Amar, de Arnaldo Jabor. Mas, para Alexandre, sempre há um sabor de “primeira vez”. E em Celebridade não foi diferente. “Nunca tínhamos feito par romântico numa novela da Globo”, destaca o ator, sem qualquer tom de brincadeira.

Elogios à intérprete de Noêmia não faltam. “Sempre digo que ela é uma grande atriz e é maravilhoso contracenar com ela”, derrama-se o maridão. Neste trabalho, especificamente, como não poderia deixar de ser, muitos aspectos do trabalho começaram a nascer em casa, onde os dois costumam bater o texto, conversar sobre as principais cenas e debater os tons dos momentos mais intensos. “É ótimo, já estamos acostumados com isso”, minimiza Alexandre, que não tem dúvidas sobre a melhor parte de trabalhar na mesma novela que a esposa. “Só assim podemos tirar férias juntos”, confessa, às gargalhadas.

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