Houve tempo em que reprises não passavam de “tapa-buracos” na programação. Os arquivos de produções já exibidas eram vistos como um peso morto nas emissoras brasileiras. Tanto que uma prática comum era destruir os próprios acervos reutilizando as fitas de videoteipes para gravar novas produções. Mas de uns anos para cá, as tevês brasileiras estão acordando para a importância das reprises. Não pelo valor histórico, que não enche barriga, mas porque as reprises têm sido eficientes para angariar audiência.

Globo, Record, SBT, Rede TV! e TV Cultura utilizam cada vez mais o recurso. A Globo, por exemplo, acaba de colocar no ar pela terceira vez a minissérie “Engraçadinha”, de 95. Além de “prestar uma homenagem aos 90 anos de Nélson Rodrigues”, é uma forma da emissora dar férias a produções da linha de show e preencher a problemática grade durante o Horário Eleitoral. Para a protagonista de “Engraçadinha”, Cláudia Raia, também em “O Beijo do Vampiro”, a reprise da série tem outra utilidade. “O público vai perceber que sou capaz de interpretar papéis distintos. Isso me dá credibilidade”, comemora Cláudia.

Bom retorno

Enquanto a Rede TV! reprisou aos domingos os melhores momentos de “Betty, A Feia” nas primeiras semanas logo após a estréia, com o intuito de divulgar a produção, a Record foi buscar a novela “Louca Paixão”, de 1999, para reexibi-la no horário das 17 h. A estratégia deu certo. A novela de Yves Dumont está conseguindo uma média de 5 pontos e chega a bater 7 pontos de pico. É bem verdade que ela era “quase” inédita, já que deu 12 pontos na primeira exibição.

Para o autor da trama, além de comemorar a boa audiência da reprise, o fato desta novela estar novamente sendo exibida tem um valor especial. É que “Louca Paixão” -adaptação de “2-5499 Ocupado”, primeira novela diária da tevê brasileira exibida em 1963 pela TV Excelsior – ganhou um núcleo negro na nova versão da Record. “Tanto antes como agora recebo elogios por ter criado o núcleo com a família negra. É um orgulho para mim como autor”, vibra Yves.

Reprises culturais

Uma das emissoras que utilizam as reprises sem parcimônia é a TV Cultura. O recurso serve até mesmo para a emissora preencher a programação sem gastar muito, já que depende principalmente dos recursos do governo de São Paulo para as produções. Um exemplo é a série infantil “Rá-tim-bum”, que estreou na emissora em 1990. Em 1994, a TV Cultura estreou a segunda fase, com “Castelo Rá-tim-bum”, e em junho deste ano colocou no ar a terceira versão do programa: o “Ilha Rá-tim-bum”. Num mesmo dia, por exemplo, a nova produção é exibida e tem mais duas reprises em horários diferentes.

Além disso, tanto “Rá-tim-bum” quanto “Castelo Rá-tim-bum” também têm reprises diárias. Para o diretor Cao Hamburguer, responsável pelas duas primeiras versões do programa, existe uma explicação para o sucesso das reprises, que conseguem mais audiência agora do que quando estrearam. “As crianças gostam de ver a mesma história várias vezes e, quanto mais conhecem, mais querem rever”, acredita Cao.

Via cabo

Aos poucos, as emissoras abertas também reprisam suas produções em canais por assinatura. O SBT tem três programas reexibidos em canais a cabo. Além do “Ilha da Sedução”, em dois horários alternativos da co-produtora Fox, “Zapping Zone” e “Popstars” também são reapresentados pelo Disney Channel, pela TVA. Para o SBT é uma maneira de atingir ao público dos canais por assinatura, que provavelmente não assistiriam os programas no SBT. A Globo também faz o mesmo esquema com a Globosat. Os telejornais “Bom Dia Brasil” e “Jornal da Globo”, por exemplo, têm reprises diárias no canal Globo News.

Vinte anos de reprises

* A primeira novela reprisada na tevê brasileira foi “O Primeiro Amor”, da Globo, que trazia a famosa dupla Shazan e Xerife. No ar em outubro de 1972, teve reprise no mesmo ano. O sucesso foi tamanho, que os personagens interpretados por Flávio Migliccio e Paulo José ganharam um seriado no ano seguinte.

* “Dona Xepa”, de 1977, foi a primeira novela reprisada no “Vale a Pena Ver de Novo”, em 1980.

* A MTV reprisou o “reality-show” da matriz americana “The Osbournes”, com o cantor Ozzy Osbourne. O detalhe é que a reprise foi ao ar apenas um mês depois de ter exibido a produção pela primeira vez.

* Os programas globais “Fantástico”, “Globo Repórter”, “Globo Rural” e “Globo Ciência” são reprisados pela Globo News. Além dos mais recentes, também programas antigos são reprisados.

* Após “Engraçadinha”, a Globo planeja reprisar a minissérie “Presença de Anita”, de Manoel Carlos, exibida no ano passado. A minissérie tornou nacionalmente conhecida Mel Lisboa, como a ninfetinha que atormentava os homens com sua sensualidade exacerbada.

Mil e uma utilidades

A reprise é tão importante na Globo que a emissora acabou abrindo um espaço fixo para este tipo de atração em 1980 com o “Vale a Pena Ver de Novo”. Como o próprio nome diz, serve para os espectadores reverem novelas antigas. E a emissora obtém ótimos índices de audiência. As duas últimas reprises, por exemplo, “História de Amor” e atualmente “Por Amor”, a Globo atinge 20 pontos de média.

Outro tipo de reprise que rende audiência são as de filmes. Quem mais utiliza este recurso são SBT e Globo, que planejam estrategicamente qual longa de sucesso vão colocar no ar. Após perder diversos domingos seguidos para o SBT, por exemplo, a Globo resolveu tirar do baú no início de agosto “Titanic” e bateu o SBT por 30 pontos a sete. Já o SBT vem conseguindo bater exaustivamente a Globo ao reexibir o antigo seriado Chaves e desenhos, como Os Simpsons, Pica Pau. A reprise de lances polêmicos também são quase uma obrigação para os programas de esportes de qualquer emissora. “A programação esportiva só se consolidou com a reprise. Sem ele, os jornalistas iriam ficar discutindo eternamente um lance do jogo”, pondera Juca Kfouri, apresentador da Rede TV!”

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