O volume de cenas brasileiras exibidas no horário nobre da TV paga no Brasil quadruplicou em um ano. O cálculo é do presidente da Agência Nacional de Cinema (Ancine), Manoel Rangel, que apresentou ontem um balanço dos seis primeiros meses da lei 12.485. Segundo a nova legislação, os canais pagos são obrigados a exibir 3h30 semanais de produção nacional, sendo metade disso de origem independente, no horário nobre. A cota ainda não vem sendo cobrada na íntegra – até setembro, a exigência será de 2h20, para permitir que programadoras, produtoras e operadoras se planejem para cumprir todo o pacote a partir de então.
Rangel, que deixa o cargo em maio, abrindo a bolsa de apostas para sua sucessão, falou a uma plateia de produtores, distribuidores e programadores de TV, brasileiros e estrangeiros, durante o segundo dia da Rio Content Market, evento realizado pela Associação Brasileira de Produtoras Independentes (ABPITV). Celebrou “o bom momento” do audiovisual nacional como oportunidade para a expansão da imagem do Brasil mundo afora. “Pela primeira vez, passamos a ter no País uma demanda real por produção independente.” Mas ele não sabe ainda mensurar em quanto de fato a nova lei acelerou a produção nacional do setor. Muitos canais ainda recorrem a reprise de filmes não inéditos e a reprises de programas além do normal para preencher as cotas, o que o presidente da Ancine não ignora.
“Continuamos recebendo queixas sobre reprises e consideramos essa uma questão sensível”, disse. “Sabemos que há uma margem de reprises que é comum ao conjunto desses canais, mas estamos atentos a distorções e à necessidade de se abrir um processo disciplinador, se for o caso.”
Embora tenha celebrado o resultado da nova legislação como grande avanço para a indústria da produção independente brasileira, Rangel não escapou de ser cobrado por maior agilidade da Ancine na aprovação dos projetos. A queixa não é inédita, mas sempre esteve mais presente no discurso dos programadores internacionais resistentes à nova lei, e ontem partiu do lado mais favorável às cotas: um produtor independente.
Foi André Breitman, da produtora 2DLab, que entre outros títulos assina a animação Meu Amigãozão para a Discovery Kids, quem citou o problema. Breitman falou sobre o interesse crescente do mercado nacional e internacional em torno do audiovisual brasileiro, em função de Copa e Olimpíada no País, e do risco de o setor perder esse bonde por falta de ritmo da Ancine. “Se a Ancine não conseguir melhorar a agilidade na aprovação dos projetos, podemos perder uma das melhores oportunidades que já tivemos no Brasil”, disse o produtor.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.