Usar o melhor terno ou o mais belo vestido simplesmente para assistir um bom filme e passear nas iluminadas ruas do Centro de Curitiba. Esse comportamento não é o mais comum nos dias de hoje.
Mas no passado, durante a década de 50, por exemplo, era como um ritual, protagonizado por casais que se preparavam durante a tarde de sábado para frequentar um dos lugares mais prestigiados da noite naquela época: a Cinelândia Curitibana.
Informações como esta compõem o livro-reportagem 24 Quadros, escrito pelas jornalistas Luciana Cristo, repórter de O Estado, e Nívea Miyakawa, repórter de O Estado de S. Paulo. A publicação será lançada nesta terça-feira, em Curitiba.
O livro é dividido em 24 capítulos, em razão dos 24 quadros por segundo do cinema. Cada um deles descreve características da Cinelândia de Curitiba como se fosse o roteiro de um filme.
Dentre os capítulos está Protagonistas, que envolve os 18 cinemas que formaram a Cinelândia Curitibana. “Esses cinemas tinham características bem peculiares. Nas fotos antigas vemos a bombonière ao lado de pessoas impecáveis. Elegantes”, conta Luciana referindo-se ao hall de entrada do Cine Avenida, onde atualmente acontece o espetáculo de Natal do HSBC.
Além dos cinemas do Centro de Curitiba, 24 Quadros cita também espaços localizados nos bairros, fora da chamada Cinelândia de Curitiba. Exemplo disso é o Cine Morgenau, inaugurado em 1919, mas que desde 1983 exibe apenas filmes pornôs.
O conhecimento dessas histórias foi possível através de pesquisas feitas em jornais da época presentes na Casa da Memória, Cinemateca de Curitiba e por depoimentos importantes, tais como os de Zito Alves (que faleceu em 2008, com 83 anos), que trabalhou como gerente e administrador de cinemas, e de Jorge de Sousa, dono do Cine Morgenau.
“A participação de Zito foi muito importante, pois durante a conversa parecia que ele necessitava contar o que sabia sobre o cinema”, afirma Luciana. Outro personagem que a jornalista ressalta é o dentista e grande conhecedor de cinema Harry Luhm. “Harry nos disse que foi responsável pelo primeiro filme legendado do Brasil. Com um projetor ele ia trocando as legendas através de um método muito arcaico, mas que possibilitou a legenda do filme Jovem Frankenstein”, disse.
Além disso, quando criança, Luhm ajudou na construção da primeira sessão de cinema perfumada, no Cine Luz, inaugurado em 1939. A nostalgia vivenciada por Jorge fez com que ele criasse o cineclube Anníbal Requião, onde amigos se reúnem uma vez por mês para discutir e conversar sobre cinema.
“É como uma festa. Os amigos trazem quitutes para aproveitar um momento que mistura decadência e nostalgia. Eles fazem questão de não frequentar cinemas modernos”, conta Luciana.
O livro, que está na coleção A Capital, com apoio da Travessa dos Editores, foi produzido por meio do Mecenato Subsidiado, uma das leis municipais de incentivo à cultura.
Serviço
O lançamento do livro 24 Quadros: uma viagem pela Cinelândia curitibana acontece nesta terça-feira, às 19h30, na Cinemateca de Curitiba (Rua Carlos Cavalcanti, 1.174).