Renata Sorrah tem encarado com bom humor as atrocidades de sua primeira antagonista na tevê, a tresloucada Nazaré, de Senhora do Destino. Nem ela sabe explicar muito bem por que, mas vê uma certa leveza nas atitudes “surtadas” da personagem. “Ela tem uma coisa de estrela… Coloca um penhoar, desce uma escada, chora, faz uma cena, é dramática. É gostoso fazer”, resume a atriz, escolhendo as palavras.
Não passa pela cabeça de Renata defender a seqüestradora, a quem define como uma assassina. Mas o fato de ser ficção, destaca, dá a chance de “não pesar a mão”. “Se quiser colocá-la no dia-a-dia, como se fosse um Globo Repórter, fica difícil. Mas minhas referências estão no cinema americano, numa Bette Davis, numa Joan Crawford”, ressalta, empolgada.
Quando começou a compor Nazaré, a atriz estava às voltas com outra personagem forte e controvertida. No teatro, interpretava Medéia, personagem-título da tragédia grega escrita por Eurípedes, que assassina os próprios filhos para vingar o desprezo do marido. Renata credita ao trabalho nos palcos suas inspirações para compor a vilã de Aguinaldo Silva. “Estava há seis meses como uma atleta, exercitando alma e sentimentos. Isso ajuda a estar atenta, a dar respostas rápidas, a deixar fluir a sensibilidade”, avalia.
Intensa
Em poucos minutos de conversa, Renata transmite tanta intensidade quanto as personagens que costuma interpretar. Fala em tom hesitante, faz pausas, respira profundamente, como se estivesse sempre buscando a melhor forma de expressar os sentimentos. Exatamente como costuma fazer com suas personagens. “É uma marca, a maneira que eu tenho de viver os papéis. Não sei bem como é… Mas, também, isso é bobagem. Às vezes, faço tudo calmo. E é ótimo fazer calmo”, pondera, brincando com a incerteza. Seja lá como for, a paixão é indisfarçável ao falar da carreira de 36 anos e, sobretudo, de suas escolhas profissionais. “Nunca foram fruto de uma “egotrip” ou por pensar na carreira ou em dinheiro”, valoriza, com um sorriso tranqüilo.
Subjugada pela arte
Renata Sorrah demorou a se convencer de que deveria seguir a carreira artística. A primeira “pista” veio por volta de 1964, quando ela fazia um intercâmbio cultural na Califórnia, nos Estados Unidos, e ouviu do professor de Teatro da escola onde estudava que “levava jeito” para a interpretação. De volta ao Brasil, Renata ainda resolveu cursar Psicologia, mas acabou se rendendo ao Teatro, onde começou a trabalhar com o diretor Amir Haddad. Encantado com um de seus trabalhos nos palcos, o escritor Dias Gomes a convidou para integrar o elenco da novela Assim na Terra como no Céu. “Foi neste trabalho que realmente resolvi seguir a carreira”, conta Renata. De lá para cá, ela fez mais de 20 trabalhos na tevê, todos eles na Globo, à exceção de Um Gosto Amargo de Festa, sua primeira novela, da Tupi. Entre todas as personagens, ela faz exatamente a mesma escolha do público, que até hoje se lembra da ébria Heleninha Roitman, de Vale Tudo. “A luta dela para se livrar do vício ajudou muita gente”, justifica.
Trajetória televisiva
# “Um Gosto Amargo de Festa”, 1969.
# “Assim na Terra como no Céu”, 1970 Nívea.
# “A Próxima Atração”, 1970 Madalena.
# “O Cafona”, 1971 Malu.
# “O Primeiro Amor”, 1972 Mariana.
# “Cavalo de Aço”, 1973 Camila.
# “Os Ossos do Barão”, 1973 Lurdes.
# “Corrida do Ouro”, 1974 Patrícia.
# “O Casarão”,1976 Carolina.
# “Sinal de Alerta”, 1978 Selma.
# “Chega Mais”, 1980 Lúcia.
# “Brilhante”, 1981 Leonor.
# “Guerra dos Sexos”, 1983 Blanche.
# “Transas e Caretas”, 1984 Sofia.
# “Tudo em Cima”, 1985 Lana.
# “Roda de Fogo”, 1986 Carolina.
# “Vale Tudo”, 1988 Heleninha.
# “Rainha da Sucata”, 1990 Mariana.
# “A, E, I, O… Urca”, 1990 Olga.
# “Pedra Sobre Pedra”, 1992 Pilar.
# “Pátria Minha”,1994 Natália.
# “A Indomada”,1997 Zenilda.
# “Andando nas Nuvens”, 1999 Eva.
# “Um Anjo Caiu do Céu”, 2001 Naná/Shirley.
# “Desejos de Mulher”, 2002 Rachel.
# “Celebridade”, 2003 Dora.