Após misturar vários dos grandes temas habitualmente explorados em novelas, Senhora do Destino chega a sua última semana sem ter enfrentado a temida barriga – período em que nada acontece na trama. O autor Aguinaldo Silva conseguiu dosar bem os momentos importantes da história, garantindo à novela seguidos recordes de audiência no horário nobre. Porém, nem tudo foi perfeito.
Alguns personagens, como Yara ou Alberto, vividos por Helena Ranaldi e Thiago Fragoso, não conseguiram dizer a que vieram. Outros, como Reginaldo e Viviane, interpretados por Eduardo Moscovis e Letícia Spiller, esgotaram a paciência do espectador – sobretudo Viviane, graças à interpretação muitos tons acima de Letícia. Mas houve acertos. Renata Sorrah na pele da surtada Nazaré, com certeza, foi o maior deles.
Além da bela atuação da atriz, registrada em várias cenas memoráveis, os diálogos da personagem foram todos muito bem construídos. Esbanjando bom humor, refinamento e generosas doses de auto-ironia, em nada lembravam, por exemplo, os chatíssimos bate-papos da família Ferreira da Silva ao redor da sempre farta mesa de refeições, ou as falas geralmente patéticas do boa-vida Plínio, interpretado de modo não menos risível por Dado Dolabella. Sorte também não faltou a Renata. Afinal, ela teve grandes embates em cena com a excelente Leandra Leal, muito bem na pele de Cláudia. E, depois do meio da trama, ganhou a companhia inseparável do tarimbado José de Abreu, intérprete de Josivaldo. Já Suzana Vieira teve de se contentar com colegas de cena não tão inspirados?.
O personagem de Wilker foi outro capítulo à parte em Senhora do Destino. Parece que Aguinaldo escreveu com muito gosto as falas do ex-bicheiro. E ainda contou com a ?co-autoria? do ator, que passou a novela inteira inventando atrocidades lingüísticas cada vez maiores para colocar na boca do simpático Giovani. O presidente da Unidos de Vila São Miguel conseguiu ainda surpreender o público ao aceitar o romance da filha, Jennifer, vivida por Bárbara Borges, com sua Léo, personagem de Mylla Christie. Se dependesse do carisma dos personagens, Giovani já poderia esperar tranqüilo pelo casamento com sua musa no último capítulo da novela.
Se houve um grande senão em Senhora do Destino, foi a direção. Dividindo o comando da trama com a interpretação de Leonardo, Wolf Maya parece ter ?perdido? a mão em vários momentos. A começar pela interpretação destoante de alguns atores, como Letícia Spiller e Ronnie Marruda, na pele de Cigano. Mas o pior mesmo foi o ritmo excessivamente arrastado de algumas cenas, como a interminável seqüência em que Nazaré limpava uma a uma as privadas da cadeia. Maldade com a impagável maluca criada por Renata Sorrah, que começou a trama roubando criança e, no final, roubou a novela…