Relembrando a história: Vargas, Mario de Barros e o Samdu

Getúlio Vargas no seu último período de governo (janeiro/1951 a agosto/1954) deixou realizações marcantes como a criação da Petrobras, do BNDES, do Banco do Nordeste e o anúncio da Eletrobras, em discurso pronunciado em Curitiba por ocasião das festividades do 1.º Centenário do Paraná, em 19 de dezembro de 1953, ao lado do governador Bento Munhoz da Rocha Neto e do Vice Café Filho.

No campo social, Vargas prestou serviços à coletividade que a população mais idosa ainda tem saudades, como a implantação do Serviço de Assistência Médico-Hospitalar de Urgência (Samdu), na Capital e em Londrina, Ponta Grossa, Jacarezinho.

Coube ao médico Mario de Barros a direção do Samdu de Curitiba. Com sua liderança inata, ele atraiu para o corpo médico da repartição figuras exponenciais como o Dr. Felix de Almeida, reconhecido unanimemente no Paraná como excelência em medicina, o ainda acadêmico Arnaldo Buzatto, que viria a destacar-se na política paranaense, e muitos outros de igual quilate.

A eficiência dos serviços médicos do Samdu despertou unânime aprovação e as ambulâncias chegavam a ser aplaudidas por populares em seus deslocamentos por locais de velocidade lenta. Com o suicídio de Vargas, em 24.08.1954, o Samdu foi perdendo importância e acabou extinto.

O médico Mario de Barros grangeou muito prestígio pela maneira dinâmica com que instalou e dirigiu o serviço, valorizando o funcionalismo tanto burocrático como o da área médica, e marcando presença em qualquer horário do dia ou da noite.

O governador Bento Munhoz da Rocha Neto fez convite irrecusável ao Mario de Barros para assumir a Secretaria da Saúde, e ele passou o comando do Samdu ao Dr. Antonio Salomão, que exercia a medicina como sacerdócio. Ele era genro do empresário Munir Kaluf, dono da tradicional Casa Louvre, localizada na então Rua 15 de novembro, hoje Rua da Flores.

Por ter repetido na Secretaria de Saúde métodos modernos de administração, Mario de Barros elegeu-se deputado estadual em 1958 com expressiva votação e somou credenciais para ser escolhido candidato a governador pelo Partido Trabalhista Brasileiro, nas eleições de 3 de outubro de 1955. O candidato natural era Abilon de Souza Naves, presidente do partido no Paraná e vice-presidente nacional, exercendo a Presidência, visto que João Goulart, presidente do PTB, candidatara-se a vice-presidente da República, na chapa encabeçada pelo mineiro Juscelino Kubitschek, lançado pelo Partido Social Democrático (PSD).

Convocado para coordenar a eleição presidencial, Souza Naves declinou da candidatura a governador do Paraná, e o PTB escolheu Mario de Barros, por unanimidade, sem qualquer disputa interna. Ele teve o apoio do tradicional Partido Republicano, ao qual pertencia o governador Bento Munhoz da Rocha Neto. Ocorre que Bento renunciou ao governo do Estado para assumir o Ministério da Agricultura, a convite de seu compadre e amigo João Café Filho, que substituiu Getúlio na Presidência da República.

A Constituição do Paraná não continha o cargo de vice-governador. Assumiu interinamente o Palácio Iguaçu o deputado trabalhista Antonio Annibelli e 30 dias depois foi eleito indiretamente pela Assembléia Legislativa o advogado Adolfo de Oliveira Franco, que em 1962 elegeu-se Senador pela União Democrática Nacional (UDN), juntamente com Amaury de Oliveira e Silva, pelo PTB, ambos apoiados pelo governador Ney Braga. Neste pleito, foi derrotado para o Senado o ex-governador Bento Munhoz da Rocha Neto, que lançou Ney Braga na política, nomeando-o Chefe de Polícia e depois coordenando sua eleição para Prefeito de Curitiba.

Voltando à eleição de governador de 3 de outubro de 1955, vários fatores prejudicaram a campanha eleitoral de Mario de Barros. O governador indireto ficou à margem do pleito, o que não teria ocorrido se Bento estivesse no cargo. A eleição presidencial simultânea criou embaraços irremovíveis para a candidatura Mario de Barros, que apoiava a chapa Juscelino e Jango, também apoiada pelo candidato do PSD, Moisés Lupion, que tentava voltar à Chefia do Executivo, que exercera de 1947 a 1950. Para complicar mais o quadro, o Partido Republicano da coligação PTB-PR no Paraná apoiava a candidatura presidencial do Marechal Juarez Tavora, também lançada pela UDN que tinha Othon Mader como candidato a governador.

O Partido Social Progressista (PSP) lançou o engenheiro Luiz Carlos Tourinho, autor do Plano Rodoviário do Estado, para governador e tinha Adhemar de Barros como candidato à Presidência da República. Contando com limitados recursos financeiros, o prestigio eleitoral e o elevado conceito que desfrutava nos meios políticos não foram suficientes para eleger Mario de Barros, que ganhou no Sudoeste do Paraná e em vários municípios de outras regiões, mas perdeu para o candidato do PSD: Moisés Lupion (PSD) – 185.108 votos; Mario de Barros (PTB) – 131.152 votos; Othon Mader (UDN) – 66.207 votos e Tourinho (PSP) – 46.082 votos (Dados oficiais do TRE).

Em 1958, Mario de Barros reelegeu-se deputado estadual e certamente teria disputado com sucesso outros cargos majoritários, mas foi acometido de doença fulminante, falecendo em 1960 no pleno vigor dos quarenta anos. Por iniciativa do deputado Antonio Annibelli, a Assembléia Legislativa outorgou-lhe “post-mortem”, em 1990, o título de Cidadão Emérito do Paraná.

Léo de Almeida Neves

ex-deputado federal e ex-diretor do Banco do Brasil. Autor dos livros “Destino do Brasil: Potência Mundial, Editora Graal, RJ, 1995, e “Vivência de Fatos Históricos”, Editora Paz e Terra, SP, 2002.

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