Regina Casé participava de um evento com crianças. Chegou com o marido. Um garotinho perguntou: “É seu segurança?” Espontaneamente, ela respondeu: “Ele é a minha segurança”. Regina não tem medo de ser piegas e o marido cineasta, Estevão Ciavatta, também não. Se você lhe perguntar o que a mulher representa em sua vida, ele responde rápido: “A minha luz”. E você pode jurar que o olho dele fica um pouquinho úmido. Regina e Ciavatta começaram a trabalhar juntos há 17 anos, casaram-se há 14 (em 1999). Ela veio do teatro, do Asdrúbal Trouxe o Trombone, e virou estrela de TV. Ele veio do curta, e também foi para a TV. “Por causa disso, tem gente que me acha traidor”, diz.

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Muitos anos e programas depois, Ciavatta realiza o primeiro longa, e quem interpreta? Regina. O encontro com os dois faz-se em um estúdio da Freguesia, zona oeste do Rio, onde está sendo filmado Made in China. O projeto começou a nascer em 2003. Há dez anos! Você pode imaginar que numa comédia, e em um filme com a Casé, todo mundo ia querer colocar dinheiro. Foi duro levantar a produção, mas isso é o passado. Made in China está saindo do papel. Há uma década, Ciavatta, que sempre foi atraído pelo Saara – não o deserto, mas a área de comércio popular no Centro do Rio, a 25 de Março carioca -, captou os sinais da mudança.

A Saara sempre foi uma área miscigenada, que abrigava judeus, ‘turcos’ (e libaneses), além das irmandades negras mais antigas do Rio. Por volta de 2003, começaram a chegar os chineses. E chegaram com dinheiro. Compraram prédios, que transformaram em lojas para expor (e vender) suas mercadorias. Made in China é sobre esse momento de transformação. Regina faz Francis, funcionária na Casa São Jorge, do seu Nafuz. Em frente, fica a Casa do Dragão. Além de vendedora, Francis é pregoeira. E fica o dia disputando clientes com Carlos Eduardo, que banca o chamariz para a loja dos ‘chinas’.

Ciavatta, quando vai ao Saara, conhece todo mundo. Mas ele não encontrou o décor de queria, as duas lojas uma de cara para a outra. De qualquer maneira, teria sido difícil com Regina num local tão apertado. “Por que? Você acha que sou alguma diva? Eu, hein? O dia em que eu não puder andar no Saara largo tudo”, diz a Casé. Foi uma mistura de praticidade e economia que levou a produção a arcar com umas solução cara, mas funcional. O Saara foi reproduzido em estúdio, outro trabalho prodigioso do diretor de arte Tiago Marques Teixeira, de Tropa de Elite 2.

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Houve muita pesquisa para se chegar ao espaço e, depois de levantar as fachadas dos prédios, foi preciso montar as lojas, com suas quinquilharias. O cinema brasileiro pode se orgulhar de seus diretores de arte. Ciavatta orgulha-se. Desde Eu Tu Eles, de Andrucha Waddington, de 2000, Regina não filmava. “Tanto tempo?”, ela própria pergunta. Todo ano, suas resoluções sempre incluíam – filmar, voltar a ser atriz, não ser apenas (como se fosse ‘somente’) apresentadora. Este ano, ela está conseguindo.

Na semana passada, com muita choradeira no set, ela terminou a terceira temporada do Esquenta. O programa só volta à grade da Globo em abril. E o que faz Regina nas férias? Além do filme do marido, ela faz, em janeiro, em São Paulo, o novo filme de Anna Muylaert. De volta ao cinema… “Não sou uma atriz de composição, mas sou muito observadora e crio minhas personagens a partir dessas mulheres que conheço e me encantam. A Francis não tem muita instrução, nunca vai ser mais que aquilo que é na loja do seu Nafuz, mas ela é uma guerreira. Põe a vida no que faz, e eu gosto de gente assim.”

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As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.