Quando vão ao ar no “Fantástico”, os quadros de Regina Casé parecem fruto exclusivo da espontaneidade da atriz. Ou da “intimidade com o público”, privilégio que ela afirma ter conquistado ao longo de mais de 10 anos entrevistando anônimos. Mas, antes de ir para as ruas, Regina já sabe exatamente que situações vai encontrar. E como reagir a elas.
“Parece que aquilo tudo sai da minha cabeça. Mas o roteiro é tão minucioso como o de uma novela”, esclarece ela, destacando o trabalho do roteirista João Carrascosa e do diretor Estevão Ciavatta, os mesmos de “Brasil Legal” e “Muvuca”.
Trabalho pesado
Os cinco minutos que vão ao ar no “Fantástico” podem consumir até um mês de produção, como aconteceu com “O Cocô”, exibido no último domingo, dia 18. Estevão passou 10 dias observando os personagens do quadro: o cachorro Dunga tinha horário e local certos para suas fezes matinais, sempre acompanhado de sua dona, Maria Rita. No 11.º dia, o diretor voltou ao local com Regina, quatro câmaras e o psicanalista que participou do quadro, mas Dunga não apareceu. A situação se repetiu por mais dois dias até que fosse possível “flagrar os infratores” da lei que prevê multa de R$ 50 para quem sujar as ruas com os dejetos dos animais. “Ele começou a ficar paranóico, achando que tinham avisado para ela”, diverte-se Regina.
Trânsito
Já para a gravação de “O Trânsito”, o último episódio da série, que vai ao ar hoje, o diretor se deparou com uma situação inusitada. “Fui para a Mena Barreto numa sexta-feira, às seis horas da tarde, e o trânsito fluía maravilhosamente bem”, conta Estevão, surpreso com uma das ruas mais movimentadas de Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro. As gravações incluíram um dia no centro da cidade e uma passagem pela CET-Rio, a Companhia de Engenharia de Tráfego. “Estamos tendo ajuda de todos os órgãos competentes”, destaca o diretor, lembrando que foi preciso pesquisar os melhores locais para a gravação e determinar o posicionamento das câmaras de modo que o público não percebesse a presença da equipe.
Pra falar
Produzida pela Pindorama, produtora de Estevão e Regina, a série surgiu longe da idéia de campanha. “Queríamos temas que fizessem as pessoas terem vontade de falar. Que elas estivessem cheias de opinião para dar, loucas para se estressar”, define Regina. Os dois afirmam que uma das maiores preocupações foi exatamente evitar o tom educativo.
Com uma equipe acostumada a programas com um bom nível de pesquisa, como “Um Pé de Quê?”, apresentado pela própria Regina no Canal Futura, eles aproveitam números e dados em prol da diversão. “O legal é fazer disso uma informação inusitada”, defende a atriz, que rejeita o rótulo de “fiscal da cidadania”. “Não sou política nem professora. Sou porta-voz. Tenho a sorte de ser querida, por isso, posso falar”, acredita.
Confiança
Regina garante que, até hoje, não enfrentou nenhum tipo de reação negativa por parte das pessoas que “repreende” nas ruas. Embora reconheça que há muita gente “estressada, arrogante e autoritária”, ela afirma que não só se sente absolutamente à vontade no quadro como sabe que conquistou o respeito e a confiança do público para desempenhar esse papel. “Se descesse uma atriz glamourosa de um carro todo preto e com um bando de seguranças atrás, seria diferente…”, ressalva. O que também tem seus lados negativos. “Todo mundo me pára na rua, cutuca, dá opinião. Ninguém me trata como uma atriz qualquer”, diverte-se.
Nova Regina
Em breve, o público vai conhecer uma nova faceta do talento de Regina. Ela dirigiu o especial “Wallace e João Vítor”, que vai ao ar na série “Brava Gente” do dia 11 de outubro. Para o ano que vem, a atriz tem o projeto de um programa com o diretor Guel Arraes e o antropólogo Hermano Vianna. A idéia é abrir espaço para matérias produzidas em diversas partes do País. Apesar de tantas frentes de atuação, Regina não se sente dividida. “Eu não tenho vontade de ser atriz, apresentadora ou diretora. O que tenho são idéias, desejos, paixões. É para concretizá-los que eu viro atriz, apresentadora ou diretora”, empolga-se.