Nos anos 1970, em plena era do “milagre brasileiro”, o Banco Central recebeu de duas instituições que quebraram, o Banco Halles de Investimentos e o Banco Áurea de Investimentos, obras de arte assinadas por grandes nomes do modernismo brasileiro, entre eles Cândido Portinari (13 painéis do pintor de Brodósqui foram parar no BC após a intervenção no Halles). O Banco Áurea contribuiu para o crescimento dos modernos ao sair do mercado, em 1974, por financiar a galeria Collectio, que faliu em 1973. Pintores como Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti e Guignard foram incorporados à coleção do Banco Central, que hoje tem mais de 600 obras, das quais 21 foram cedidas em comodato por 10 anos ao Museu de Arte de São Paulo (Masp). O anúncio foi feito ao Caderno 2 pelo diretor artístico do museu, Adriano Pedrosa.

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No cargo desde 2014, Pedrosa é reconhecido por trazer de volta ao Masp os cavaletes de cristal desenhados pela arquiteta do Masp, Lina Bo Bardi. Eles agora sustentam não só obras da coleção permanente como telas do Acervo em Transformação, exposição de longa duração que mistura essas peças com as cedidas em comodato – em julho do ano passado o Masp recebeu da B3 (ex-BM&F e Bovespa) obras de modernistas por 30 anos. Entre elas estão pinturas de Anita Malfatti, Ernesto de Fiori e Guignard, que podem ser vistas no segundo andar ao lado dos mestres modernos estrangeiros do acervo (Cézanne, Manet e companhia).

O grande beneficiado com esses empréstimos é certamente o público, mas não só o brasileiro, observa o diretor artístico do Masp. “O museu dá maior visibilidade a essas obras e permite que curadores e diretores de instituições fora do Brasil conheçam melhor os artistas brasileiros, além de abrir novas possibilidades de reflexão sobre eles”, diz Pedrosa, citando, por exemplo, o intercâmbio com a Tate no ano passado, que trouxe a São Paulo pinturas de Francis Bacon e Sylvia Sleigh. Este ano será a vez de um grande museu norte-americano.

A cessão em regime de comodato de parte da coleção do Banco Central vem corrigir a existência comprovada de lacunas no acervo do Masp, em especial obras modernistas. De Tarsila do Amaral, por exemplo, o museu só tinha uma gravura, lembra Pedrosa. Agora, com a cessão do Banco Central, são quatro as telas incorporadas pelos próximos dez anos, duas dos anos 1920, uma da década de 1930 e outra dos anos 1950. De Volpi, nosso maior pintor moderno, o Masp só tinha uma fachada dos anos 1950: recebeu nove telas de extraordinária qualidade do acervo do Banco Central. Di Cavalcanti tinha uma pintura na coleção do Masp. Mais três foram incorporadas, sendo retratos de mulheres, cada uma de uma década diferente.

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“Foi difícil fazer a seleção de 21 entre as 600 obras do acervo do Banco Central, pois as peças dos pioneiros modernistas, além de raras, são importantes para avaliar a evolução desses artistas, caso de Tarsila, que será homenageada em abril pelo Masp com a exposição Tarsila Popular”, revela Adriano Pedrosa. Uma das telas cedidas em comodato é um curioso autorretrato da artista de 1921, pintado um ano antes da Semana de Arte Moderna.

A exemplo de Tarsila, outras lacunas impedem que o Masp seja uma referência para o estudo da modernidade brasileira. Sem falar na presença modesta dos abstracionistas geométricos, Pedrosa aponta nomes de artistas que não figuram na coleção do Masp: Maria Martins e Antonio Dias são alguns dos que lembra de imediato. Daí a importância dos empréstimos.

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As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.