Há três anos no comando do Espelho, do Canal Brasil, Lázaro Ramos já deixou de lado a obrigação de tratar, a cada programa, de algum assunto com temática negra. Não que o ator não se preocupe com essas questões. Mas para Lázaro é mais interessante encontrar uma forma de atrair qualquer tipo de telespectador e, é claro, aumentar a auto-estima da população com origens africanas no Brasil. ?Existem várias formas de valorização. Fiz um programa sobre beleza e entrevistamos um cirurgião plástico negro. É um jeito de mostrar que nos destacamos em outros segmentos, e não só na arte ou esporte?, defende. Para isso, o apresentador conta com um ponto a favor, acordado desde a estréia do Espelho, em 2006: a ausência de um formato fechado para o programa. ?Abriu portas para fugir de uma fórmula que, depois de três anos, poderia já estar ultrapassada?, explica.
Além do programa, Lázaro já tem outro compromisso para 2008. O ator está na Bahia gravando os episódios da microssérie Ó, paí, ó, adaptação do longa homônimo que a Globo deve estrear no fim de novembro. Na produção, prevista para ter seis episódios, o ator continua interpretando o aspirante a cantor Roque. ?Ele vai se casar, continua investindo na carreira artística e se envolve com política na tevê?, adianta.
P – Quando o Espelho foi idealizado, a proposta era falar de assuntos relacionados a temáticas negras, mas isso não acontece mais atualmente. O que mudou de lá para cá?
R – Já na segunda temporada nos distanciamos um pouco dessa obrigação e isso ficou ainda mais evidente na terceira, a atual. Não é que a gente não trate de temáticas negras, mas buscamos pautas que interessam a todos os tipos de telespectadores, inclusive os negros. Eu apresento e dirijo e minha equipe tem muitos negros, então é natural que os assuntos que a gente escolhe e os próprios entrevistados criem uma identificação com esse público.
P – Por que você decidiu apresentar o Espelho?
R – O grande barato é ter um espaço na tevê para falar o que eu quiser, sem que os outros mandem em mim. É lógico que temos um chefe, não é uma bagunça. Mas o Canal Brasil nos dá uma liberdade de criação que eu sei que dificilmente conseguiria em qualquer outra empresa. A visão é sempre minha e da minha equipe.
P – Você entrevista pessoas mas não é jornalista. Isso incomoda ou deixa você inseguro?
R – Olha, eu ia inventar uma coisa bonita para responder e dizer que fico sempre com frio na barriga, mas seria mentira. Não tenho obrigação de surpreender na posição de entrevistador. Não tenho a pretensão de influenciar a opinião pública sobre determinado assunto, então não fico inseguro mais não.
P – Além do Espelho, você aparecerá no ar na microssérie Ó, paí, ó, que a Globo estréia no fim do ano. O que muda na adaptação do filme para a tevê?
R – Uma coisa legal é o fato de que, com esse formato, é possível desenvolver histórias dos outros personagens. Ao todo são 16 e temos previstos seis episódios. Acho que vai ser uma boa oportunidade de mostrar outros traços da cultura baiana através de ganchos que saiam desses papéis. Continuo fazendo o Roque, só que ele vai se casar, se envolver com a política, enfim, essa temporada de estréia estará com muitas novidades.
P – Vocês já conversaram sobre futuras temporadas de Ó, paí, ó na Globo?
R – Ainda não se sabe, mas é claro que existe a possibilidade. Minha expectativa é a melhor possível para temporadas futuras.
Espelho – Canal Brasil – Segundas, às 21h30. Reprise às terças, às 16h, e aos sábados, às 12h30.