O trombonista carioca: afinidade com os paranaenses e reconhecimento mundial. |
No final do ano passado, quando o baixista paranaense Glauco Sölter esteve se apresentando em Paris, hospedou-se por uma semana na casa de uma lenda viva da música mundial: o trombonista carioca Raul de Souza. Durante a estada, Sölter e Souza planejaram a realização de um espetáculo conjunto, algo especial que pudessem apresentar quando se encontrassem no Brasil.
Não demorou muito para que a esperada reunião em território nacional acontecesse. Souza acaba de chegar à cidade para ministrar aulas de composição para sax e trombone na 22.ª Oficina de Música de Curitiba. “Mas também quero falar sobre métodos de improvisação”, adianta. “Muita gente não sabe improvisar, não sabe se pega a esquerda ou a direita”.
Mas não serão só os alunos que terão o privilégio de ouvir Raul de Souza improvisando. O trombonista e Glauco Sölter juntaram uma banda de primeira para acompanhá-los no único show que farão em Curitiba, hoje, às 21h, no Era Só O Que Faltava. Com eles, sobem ao palco o baterista Endrigo Bettega, o guitarrista Mário Conde e o tecladista Jeff Sabbag. “Vai ser um show lindo”, promete Souza. “Vamos tocar composições minhas e do Glauco, além de algumas de Tom Jobim e de outros mestres da música brasileira.” Com essa mesma formação paranaense, o grupo ainda pretende se apresentar em São Paulo, em Porto Alegre e na Lapa.
Para se ter uma idéia da importância do trombonista para a história da MPB, basta dizer que seu verdadeiro nome é João José Pereira de Souza, e que foi rebatizado como Raul por ninguém menos que Ary Barroso. Nascido em 1934 no subúrbio carioca de Campo Grande, iniciou sua carreira aos 16 anos, na banda da fábrica de tecidos Bangu.
Nessa mesma época, conheceu o maestro Pixinguinha, sua maior influência. Em pouco tempo, já entrava em estúdio com Altamiro Carrilho, Baden Powell e Sivuca, para as gravações do LP da Turma da Gafieira. Quando morou em Curitiba, de 1958 a 1963, período em que integrava a banda da FAB (Força Aérea Brasileira), ensaiou suas primeiras parcerias com o percussionista Airto Moreira. Mais tarde, Raul de Souza também participou da Orquestra da Rádio Mayrink Veiga e liderou a lendária RC-7, banda de apoio de Roberto Carlos nos anos 60.
Desde muito cedo, Souza manteve-se aberto às boas influências do jazz e de outras vertentes da música negra que lhe chegavam dos Estados Unidos. Por isso, tornou-se rapidamente um dos maiores nomes da bossa nova. Foi acompanhando o músico Sérgio Mendes, que realizou suas primeiras excursões pelo exterior.
Solista
Como solista, estreou em LP em 1965, com o lançamento do disco À Vontade Mesmo. Décadas depois, já com dezenas de CDs no mercado, Raul, que até já inventou um instrumento musical, o souzabone – é praticamente uma unanimidade entre os fãs de MPB, jazz, funk e soul do mundo todo. Prova disso é que os leitores da revista Down Beat já o colocaram entre os cinco melhores trombonistas de jazz do planeta, enquanto os leitores da New York Jazz Magazine não têm dúvida: ele é o número um.
Tudo isso vem sendo registrado pelo jornalista e crítico musical Roberto Muggiati, que prepara, para breve, uma biografia do músico. E a vida de Raul de Souza também virou filme. O documentário Seja Qual For o Destino Final é o novo projeto da Maquina Produções e Artes Cinematográficas, das irmãs Heloísa e Luciane Passos.
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Hoje às 22h no Era Só O Que Faltava (Av. República Argentina, 1.334). Ingressos a R$ 15 e R$ 10 (para alunos da Oficina de Música e estudantes). Informações: (41) 342-0826.