Desde o título, o novo álbum da rapper australiana Iggy Azalea já dá um recado. In My Defense (Em Minha Defesa), lançado em julho, representa uma espécie de retorno da artista para o hip hop depois de anos de investimentos frutíferos na música pop. Em 2014, ela se tornou a primeira cantora ou banda, de qualquer gênero, desde os Beatles, a ocupar os dois primeiros lugares no Billboard Hot 100, com Fancy (música sua com participação de Charli XCX indicada a dois Grammys) e Problem (de Ariana Grande com participação sua).

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Iggy também foi a primeira mulher não americana a alcançar o topo do Billboard Rap Chart, com seu primeiro disco The New Classic, também de 2014. Cinco conturbados anos depois, In My Defense não obteve o mesmo sucesso (a maior posição foi o #50 na parada americana). Mas o álbum faz, agora, a rapper apresentar seu primeiro show completo e aberto ao público no Brasil, no dia 15 de dezembro, em São Paulo. Essa será sua única apresentação na América do Sul em 2019. Os ingressos já estão à venda e custam a partir de R$ 145 (meia-entrada ou com 1kg de alimento não perecível).

Os anos entre os álbuns foram conturbados porque Iggy Azalea – embora tenha uma base de fãs enorme e aguerrida nas redes sociais e acumule mais de 2,5 bilhões de visualizações no Youtube – é uma das artistas mais discutidas do cenário atual do hip hop americano. Seus críticos alegam que ela se apropria da cultura negra ao, entre outros episódios, incorporar um sotaque do sul dos Estados Unidos em suas canções e falas (embora tenha nascido em Sydney, na Austrália, e se mudado para os EUA em 2006, para construir uma carreira na música). Também já houve acusações de racismo e de negligência em relação à complexa discussão de etnicidades na América, sobre as quais, durante um tempo, ela se desculpou publicamente, além de ter atribuído o grande volume das críticas a um machismo estrutural da indústria.

Mas o novo disco diz muito sobre o lugar em que ela se encontra, renovada e confiante. “Você odeia me amar ou ama me odiar?”, questiona em Started. “Eu comecei do nada e agora sou rica / eu peguei a minha mala e nunca olhei para trás / eu comecei a pedir desculpas mas f***-se essa merda”, prossegue.

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“É um processo longo”, diz uma simpática Iggy por telefone, de Atlanta, onde vive hoje com o namorado, o também rapper Playboy Carti (autor do incendiário Die Lit, um dos álbuns mais relevantes do novo rap americano). “Quando algo acontece e acaba com sua confiança, você quer se levantar rapidamente e voltar a ser tão forte quanto antes, mas não é sempre sua escolha. Por mais que eu quisesse voltar logo, fico feliz que esperei até estar pronta, até sentir que estava num lugar bom para lançar novas músicas. Tomei decisões de maneira mais clara, pensando em fazer um álbum de maneira mais coerente, o que provavelmente não aconteceria se eu tivesse apressado as coisas.”

Cinco anos, porém, é um tempo grande demais entre um álbum e outro, segundo a artista. No meio tempo, ela saiu da gravadora Island Records e fundou sua própria empresa, a Bad Dreams (e no processo ainda conseguiu levar suas próprias masters, o sonho de consumo dos grandes astros da música pop). “Eu amo ter a minha própria gravadora, mas tem sido bastante trabalho, porque tenho muito o que aprender sobre esse negócio. Lançar o álbum foi um processo complexo, com marketing, aprendendo o que funciona, o que não funciona. Como chegar até os fãs? Tento injetar criatividade nessa parte também. Por isso que estou tão animada para lançar novas músicas, porque aprendi tanto com esse processo que agora já quero aplicar nos próximos lançamentos, e fazer melhor.”

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Ela tem dado dicas no Twitter sobre uma faixa nova, sem entrar muito em detalhes, mas para a reportagem ela afirmou que a canção sai antes do show no Brasil. “É uma colaboração com várias garotas, e conseguimos gravar todas no mesmo estúdio ao mesmo tempo, isso é muito raro em casos assim. Mas não vou falar muito porque quero que seja uma grande surpresa para todo mundo”, comenta.

A expectativa é que ela se mantenha mais conectada ao rap do que ao pop com os próximos lançamentos, assim como fez com a maior parte de In My Defense. “Eu amo música pop também, amo hip hop, e às vezes gosto de misturar alguns estilos”, explica. “O que me deixa frustrada é que muitas pessoas só souberam quem eu era ouvindo minhas investidas no pop.”

Ela conta ter sofrido questionamentos sobre sua capacidade de rimar. “Agora que tenho as minhas plataformas tão grandes, foi muito importante para mim voltar a fazer um álbum de rap. Foi ali que comecei, é ali onde estão minhas raízes, é sobre isso o meu trabalho. É um agrado também aos fãs que estão lá desde o começo. Não quer dizer que não vou fazer música pop no futuro, porque eu amo. Mas é importante manter um equilíbrio.”

Com uma parceria com Anitta (e a expectativa de que Pabllo Vittar esteja em seu próximo álbum), Iggy diz que não teve questões com a brasileira, apesar de rumores não confirmados por nenhuma das duas dizer o contrário. “Eu não sei de onde isso veio. Nunca tive nenhum problema com ela, e realmente acho que ela nunca teve nenhum problema comigo. Acho que foi mais uma disputa entre fãs.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.