São Paulo – Ralf Richardson da Silva sabe que é um sujeito excêntrico: “Cada vez que faço um projeto me chamam de louco”, diz. Só que dessa vez ele foi ainda mais longe: chegou ao gabinete do ministro Gilberto Gil esta semana, anunciando: “O pirata está morto!”.
A convicção de Ralf se baseia numa patente que ele registrou recentemente, um novo conceito de metalização do CD. O sistema é simples: cada fabricante de CD injeta os dados de uma maneira; Ralf inventou uma forma alternativa de fracionar a informação no material, uma forma que permite a mesma reprodução, e, além de tudo – garante – inviabiliza a cópia. E, ao patentear o sistema, descobriu que nem a fração de informação, nem o conceito tinham sido patenteados anteriormente. “Patenteei cada linha que tem o CD.”
O cantor e violonista, que é 50% da dupla sertaneja Christian & Ralf, há 18 anos na estrada, diz que sua invenção é capaz de derrubar drasticamente o atual preço de custo do CD, deixando-o num patamar em torno de R$ 4 e tornando-o de difícil concorrência até para o disco de camelô. Ele patenteou seu conceito no Brasil, Chile e na instituição internacional PCT, de copyright.
Na verdade, a estratégia do CD de Ralf consiste no barateamento dos custos de produção. O disco pirata é gravado a partir do CD virgem. O CD de Ralf é mais barato de produzir que o CD virgem. E ele pretende comercializá-lo sem a caixinha de acrílico, com as informações técnicas vazadas no disco e em envelopes de plástico.
“O Samuel, do Skank, me perguntou: “E se eu quiser uma capa?? Ué, faz a capa, eu disse. Se não houver a boa e velha ganância, ainda assim o CD vai continuar saindo por R$ 4”, considera. A empresa do cantor já aceitou um pedido de uma grande instituição federal para produzir CDs de brinde, e Ralf inicia sua aventura com uma encomenda de 20 milhões de CDs.
O cantor conta que se reuniu com executivos das principais fábricas de produção de CD no País, como a Microservice, a Sonopress e a Videolar. “Eles reconheceram que a minha invenção é a salvação de todos nós”, garante. “Podemos fazer um CD a R$ 4 reais para o mercado; e, se o pirata baixar para R$ 3, nós baixamos para R$ 2; e, nesses R$ 4, nós já estaremos tendo 300% de lucro. Os artistas voltarão a vender milhões”.
Mas Ralf sabe que a coisa não é assim tão simples. Pediu para falar com executivos de duas gravadoras. Um marcou e não apareceu.O outro riu. “Se eles forem espertos, eles entram já no negócio. O CD precisa ser mais barato, todo artista está pensando nisso, porque não vende mais disco. É um absurdo o que está acontecendo para a cultura do País, para a cultura mundial. Se ninguém se interessar, eu vou montar a maior companhia do mundo. Já tem um banco interessado. Não é o que eu quero, sou boa-vida e não quero trabalhar em fábrica ou gravadora”, arremata.