O projeto inicial previa um romance sobre o encontro entre uma escritora veterana e uma jornalista inexperiente, destacada para entrevistá-la. A conversa, inicialmente amena, logo se transforma em agridoce até que revelações espantosas vêm à tona. “Tudo mudou quando o Canal Brasil necessitava de um plano para um filme – ofereci a ideia, que foi aceita”, conta Rafael Primot, que estreia na direção de um longa com Gata Velha Ainda Mia, que chega nesta quinta-feira, 15, aos cinemas.
Em meio a comédias insossas, Gata Velha Ainda Mia é um oásis na atual produção brasileira, ao lado de Praia do Futuro e Hoje Eu Quero Voltar Sozinho. Com Regina Duarte no papel da escritora Gloria Polk e Bárbara Paz como a repórter Carol, o longa de Primot aposta na força da palavra: a ação se concentra no apartamento da autora que, ao descobrir ser Carol a atual mulher de seu ex-marido, sente a necessidade de desabafar, traduzida em reclamações sobre ter ficado velha e de como seu feminismo caducou e aumentou o ressentimento pela solidão.
“O atrito foi facilitado pelas diferenças artísticas entre as atrizes”, comenta Primot. “Além de Regina e Bárbara, conto ainda com Gilda Nomacce, que tem uma bela participação. Como cada uma veio de uma escola, busquei uma homogeneização nas atuações ao tentar colocá-las em situações cênicas a que não estão acostumadas.”
Assim, Regina, mais conhecida por seus papéis de mulher meiga, revela um lado sombrio, enquanto Bárbara, ao contrário, habituada a personagens fortes, no filme é uma jovem mais delicada e feminina. O desafio surpreendeu as duas.
“Rafael quis me deixar o mais velha possível”, diverte-se Regina. “Tenho umas pequenas manchas no rosto e ele não deixou que eu cobrisse com maquiagem: queria que eu exibisse a cara lavada.” Já Bárbara estranhou a própria atuação, acreditando, muitas vezes, não estar bem em cena. “Ela até pedia para repetir, pois não estava satisfeita, mas, na verdade, estava ótima”, conta Primot.
Produzido com um baixo orçamento (apenas R$ 150 mil), o filme foi rodado em apenas uma semana. Por conta disso, os três meses anteriores foram dedicados aos ensaios, o que permitiu uma precisão em cena. Primot contou ainda com uma equipe de também estreantes em longa-metragem que, apesar do noviciado, revelou-se competente. Basta notar o trabalho da direção de fotografia de Leo Resende Ferreira, especialmente na busca de detalhes. Também na música original composta por Marcelo Pellegrini, essencial para o crescente clima de tensão. “Contei com um grupo que entendeu perfeitamente o conceito do projeto”, diz Primot. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.