Era visível que a Arena Anhembi estava mais cheia. Eram 12 mil pessoas – contra 7 mil do primeiro dia de festival e 8 mil do segundo. A atração principal, por incrível que pareça, era local: os rappers do Racionais MC’s. Depois de tantas atrações internacionais, o grande destaque canta os problemas enfrentados por todos os paulistanos que ali estavam, e enfrentavam o frio, uma constante em todos os dias do Black na Cena.
Eles ainda foram sucedidos pelos americanos Redman e Method Man, mas o público já estava bem mais reduzido. Era a noite de ouvir o que Mano Brown e seus companheiros tinham a dizer.
A presença do Racionais MC’s é a representação máxima do que é o hip hop nacional. São o grupo mais importante desde os anos 90. Avessos a entrevistas. Querem passar sua mensagem, e usam a música e os versos para isso. Mano Brown, com sua característica voz grave e soturna, é talvez um dos maiores rappers do Brasil. Sobrevive ao hype que, vez ou outra, destaca um novo nome da cena underground do rap nacional. É uma espécie de unanimidade.
Com 40 minutos de atraso, às 18h40, o Racionais subiu ao palco. Acompanhados por dois DJs, Mano Brown, Edy Rock, Ice Blue, KL Jay e outros convidados foram efusivamente saudados. Era hora de a revolução musical começar. Fugindo das fórmulas importadas, se atendo a batidas que muitas vezes emulam clássicos da black music brasileira das décadas passadas, os Racionais MC’s transformaram as suas apresentações em verdadeiros acontecimentos. Não costumam se apresentar sempre. Ou seja, o show de anteontem era valioso.
Por isso mesmo, uma revolta inicial com a falha no microfone dos outros integrantes do grupo tenha rendido tantas vaias e dedões apontados para baixo, em sinal de reprovação. O tempo era curto – o show deveria ter aproximadamente uma hora de duração. Só na terceira música, vieram “To Ouvindo Alguém Me Chamar”, “Eu Sou 157” e “Tá Na Chuva”, Mano Brown atentou para o problema. “Eles tão avisando há muito tempo. A gente que não queria ouvir”, disparou.
Depois, com os microfones funcionando, o show foi visceral e intenso. Minimalista sonoramente, mas com versos carregados de críticas. As clássicas “Negro Drama” e “Capítulo 4 Versículo 3” foram cantadas em coro.. A mensagem estava novamente passada.
Encerramento animado – Em seguida, um show surpreendente. Method Man e Redman deveriam se apresentar separadamente. Os amigos, no entanto, preferiram fazer uma apresentação dupla. Com um som mais vívido, os rappers animaram quem ficou para o encerramento do Black na Cena. E o fizeram de forma vigorosa, subindo numa plataforma no meio do público. As informações são do Jornal da Tarde.