Racionais MC’s fazem show concorrido em São Paulo

Mano Brown admite: se os fãs não colaborarem nas músicas novas, cantando junto, vibrando e mesmo exigindo reciclagem de seu grupo, ele corre o risco de acabar virando um “museu de cera” – expressão que ele mesmo utilizou no ultralotado show de domingo no Carioca Club, em Pinheiros, para cerca de 2 mil pessoas (num lugar onde cabiam 1,2 mil). O show dos Racionais MC’s, atualmente, está fundado num lote de hits de mais de uma década, como “Negro Drama”, “Um por Amor, Dois por Dinheiro” e “Vida Loka”.

“Se as minhas ideias pretendem ser úteis, como algumas ideias, dizem, no passado foram úteis; se as minhas ideias e as suas ideias estiverem em sintonia, e sintonia é a palavra-chave do século, e se interagirem com as coisas de 2013… Essa música agora é de 2001. Quanta coisa rolou de 2001 para cá, certo? Imagina se, 12 anos depois, eu tiver de tomar a mesma orelhada? As ideias têm de evoluir. Pra frente. Eu também gosto de coisas antigas, gosto de James Brown, gosto de Kool and the Gang. Não são antigos, são eternos. Estão nas nossas raízes, admiro, gosto de coisas do século passado. Mas eu preciso fazer música nova, morou, irmão? E preciso que os irmãos compreendam o seguinte: eu preciso ir para a frente. Senão eu vou ter de tirar o time de campo, se eu ficar repetindo as mesmas ideias 25, 30 anos, morou? Vou deixar de ser uma sintonia para ser um museu de cera, aquele móvel que você não usa mais, ok? Aquele móvel que você respeita mas não usa, sacou?”

Mano Brown parece querer escapar da armadilha dos idólatras. Mas não é só a plateia que tem de entender a coisa – os próprios Racionais estão vacilando na tentativa de oferecer “sangue novo” para a exuberante plateia que os segue Brasil afora. Seu novo álbum, anunciado há anos, parece que nunca chega. “Novo disco dos Racionais tá mais embaçado do que Chinese Democracy, do Guns N’ Roses”, zoou um garoto no Twitter.

A novidade pinta mansamente no repertório do grupo, como “Mil Faces de Um Homem Leal” (“Marighella”), que eles cantaram sentados na frente do palco, encarando a plateia, mastigando os versos com raiva. “Marighella” não é hit, nem tem pinta de que vai ser, mas a nova música de Edy Rock com o hitmaker Seu Jorge, “That’s My Way”, ensandeceu as garotas da plateia. “A gente atira no escuro, não escuta ninguém”, diz a letra, ultramelódica e pesada ao mesmo tempo. As parcerias parecem ter se tornado mais flexíveis – os Racionais se apresentaram no festival Planeta Atlântida e dividiram o palco com o popular Charlie Brown Jr.

No Carioca Club, o mais importante grupo brasileiro de hip-hop fez o que está acostumado a fazer: dominou o público, dominou a cena (da segurança na porta ao convidado, um MC vovô, no palco), discursou, bateu boca com torcedor de time adversário (o líder, Mano Brown, é santista fanático). Mesmo sua fama de mau está mudando: ao chegar ao Carioca Club, o rapper ficou longo tempo na calçada, na rua, deixando-se fotografar nos celulares, conversando, explicando, colocando amigos sem dinheiro para dentro.

Mano, como de hábito, falou de política convencional (“Você tem direito a saúde. Trabalho. Segurança. E segurança é com o governador”, disse o rapper) e de consciência racial (“Os negros têm que discutir, têm que dialogar, têm que discordar uns dos outros, e concordar quando for certo, pelo certo”), mas sua atuação foi principalmente em prol de um manifesto da liberdade criativa, com um discurso diferente. “Eu acho que ainda posso ser útil, mas preciso de vocês. Vocês precisam permitir essa liberdade”, afirmou.

Após 24 anos de estrada, as personas por trás de Mano Brown (Pedro Paulo Soares Pereira), Ice Blue (Paulo Eduardo Salvador), Edy Rock (Edivaldo Pereira Alves) e KL Jay (Kleber Geraldo Lelis Simões) parecem querer se libertar de alguns estigmas. Mas em movimento. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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