As 6.947 pessoas que compraram ingresso para ver neste sábado, 6, o show único que comemora os 25 anos dos Racionais, no Citibank Hall, foram as mais rápidas no gatilho: os ingressos começaram a ser vendidos no dia 16 de junho e em um mês estavam esgotados.
A mais importante banda de hip hop do País toca, à 1 hora da madrugada de domingo, 7, hits que nasceram na periferia e hoje alcançaram status em todo o espectro social: Negro Drama, A Vida É Desafio, Vida loka, Jesus Chorou, Artigo 157, Da Ponte Pra Cá. Antes de eles entrarem no palco, DJ Paty DeJesus, MC Rincon Sapiência, Flora Matos e Emicida entretêm a plateia para o rolo compressor do grupo.
Mano Brown, Edi Rock, Ice Blue e KL Jay fizeram um acerto para que o show seja transmitido pela página do Sky Live (www.facebook.com/skylivebr) neste domingo, 7, a partir da 0h30, para os fãs que não puderam arrumar ingresso.
Há mais de uma década sem um disco novo, os Racionais passaram todos eles dos 40 anos e prosseguem sendo a “nave-mãe” do hip hop nacional. Kleber Geraldo Lelis Simões (44 anos, o KL Jay), Paulo Eduardo Salvador (43 anos, o Ice Blue), e Adivaldo Pereira Alves (43 anos, o Edi Rock) completam o quarteto com Brown, o profeta.
Mano Brown deu uma longa entrevista a Endrigo Chiri para a revista Cult de agosto. Explicou até a origem de seu nome artístico (o real é Pedro Paulo Soares Pereira). “Eu era mula de fundo de ônibus. Eu fazia samba, certo? Eu tocava repique de mão. Sempre no final do samba, ou quando o bumba chegava, eu começava a fazer umas batidas americanizadas no repique de mão. E sempre tinha alguém que levava um rap, que fazia aquele som do Grandmaster Flash. Tinha uns amigos que cantavam Houdini, uns refrões de bailão. Morou? Aí os caras: ‘Ó o Denis Brown!’. Era o James Brown. Era mula, não era elogio. Aí eu gostei do Brown. No começo, eu chamava Paulinho Brown.”
Sua lenda começou ainda nos antigos embates da Estação São Bento do Metrô, no final dos anos 1980, quando Brown foi escalado para substituir um outro MC. “Eu era a quinta opção”, contou. Perguntaram quem era o cara do Capão Redondo que rimava bem, e apontaram para ele.
“Eu não tinha essa visão de ser cantor, não. Mas eu não tinha nada a perder”, contou Brown. Fã do soulman Cassiano, ele de vez em quando faz um verso a capela do mestre: “Mais um ano se passou/E estou ficando velho e acabado”.
Apesar de não se preocuparem com o lançamento de um novo disco, a produção dos Racionais nunca estancou de fato. Nos anos recentes, eles lançaram diversas músicas novas, como Mulher Elétrica, Marighella, Gangsta Boogie, Homem Invisível, Cores e Valores, Mente do Vilão e Dance Dance. Em cada uma delas, um tipo de manifesto de sua militância e de suas guinadas.
De posicionamento político sempre forte e pontual, os Racionais despertam paixões extremas. No ano passado, o cantor Lobão escreveu: “O rap e o hip hop viraram um órgão de propaganda das ideias medíocres e revanchistas do PT, com a sua maior expressão, os Racionais MCs, (que) virou uma ridícula caricatura de toda esta doutrina (?) São epifanias de Mano Brown, abrandar clichês anacrônicos a convocar o terrorismo explícito (?) Exatamente como era de se esperar de um papagaio piegas e recalcado. O tão chamado idiota útil”.
Mano Brown não elaborou muito para responder. Foi curto e grosso: “Conheci o Lobão em 1996. Cumprimentei e depois disso nunca mais o vi. Sinceramente, não tenho o que falar da pessoa dele. Estranho o Lobão falar de mim sem nunca ter me conhecido. Não entendo a postura dele agora. Ele que pregava a ética e rebeldia, age como uma puta pra vender livro. Nos anos 80, as ideias dele não fizeram a diferença para a gente aqui da favela. Ninguém é obrigado a concordar com ninguém, nem ele comigo. Lobão está sendo leviano e desinformado. Tô sempre no Rio de Janeiro, se ele quiser resolver como homem, demorô!”.
O DJ dos Racionais, KL Jay, diz o seguinte: “Eu me sinto o comandante de uma nave proporcionando uma boa viagem para a tripulação”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.