Quvenzhané Wallis: destaque de ‘Indomável Sonhadora’

Há um antes e depois do furacão Katrina na vida do diretor Behn Zeitlin. Aos 30 anos – que completou em outubro -, ele pode não ser o mais jovem indicado para o Oscar da categoria, mas seu filme Indomável Sonhadora, de qualquer maneira, faz história por ter a mais jovem indicada para o prêmio de melhor atriz, a garota Quvenzhané Wallis.

Indomável Sonhadora é sobre uma garota e seu pai, o que não parece muito, mas é também sobre o mundo, o que lhe confere uma dimensão bem mais ampla. No Festival do Rio, no ano passado, Zeitlin falou do filme, do Katrina e das suas ligações com o Brasil. Ele tem parentes em São Paulo e avisa que gostaria de filmar aqui.

Zeitlin nasceu em Nova York e estudou cinema em Connecticut. “Cursei teoria e análise de filmes, mesmo sem querer me tornar professor. Na verdade, sempre quis contar histórias.” Em Connecticut, ele formou com amigos um coletivo, Court 13, que, na realidade, era um endereço. “Como a Louisiana oferecia facilidades de produção, fui para New Orleans e eles me seguiram. Fiz dois curtas e o longa terminou por se impor.

Houve o furacão Katrina e, em meio àquela devastação, me dei conta de que ali era o meu lugar. O filme nasceu um pouco dessa sensação.”

O pai de Indomável Sonhadora tem algo de um desmesurado personagem de Herman Melville. O rosto de Zeitlin se ilumina. “Moby Dick é um dos meus livros preferidos, com As Aventuras de Huck, de Mark Twain. Fiz um curta chamado Egg que já tinha ressonâncias de (Herman) Melville. Não pensei especificamente nele para o personagem do pai, mas estou tão impregnado que não estranho quando as pessoas fazem a ligação.”

O filme baseia-se numa peça de Lucy Alibar, mas Zeitlin é o primeiro a dizer que deve muito mais ao seu curta Glory at Sea, de 2008. “Já está tudo lá, mas, quando comecei a desenvolver o roteiro para o longa, tive acesso ao texto de Lucy. Juicy and Delicious é sobre um garoto que perde o pai e vai procurá-lo no fim do mundo. Depois do Katrina, estava muito ligado nos temas da água e da perda dos lugares. Juicy é sobre a perda de uma pessoa. Percebi que podia juntar as duas coisas, a perda do lugar e da pessoa, e foi assim que surgiu a personagem de Hushpuppy.” O primeiro roteiro tinha muitos personagens, muitas histórias. “Participei de um laboratório em Sundance e comecei a me concentrar. Surgiu a vontade de contar a história do ângulo de Puppy, como se tudo se passasse na sua cabeça.”

As terras vão ser inundadas e ela libera esses monstros para encarar suas fantasias (The Beasts of the Southern Wild, título original). “O filme é mais realista do que parece”, diz o diretor. “Depois do Katrina, áreas que haviam sido alagadas começaram a ser abandonadas. Elas foram invadidas pelo bayou (o pântano), comunidades foram desativadas. A Louisiana, até no cinema, é uma terra de muita superstição. Sempre houve a preocupação de ser realista, quase documentário, mas, a partir do momento em que o filme se deslocou para a cabeça de Hushpuppy, quis romper com o realismo. Queria que tudo fosse muito natural para ela e, por isso, no roteiro, Puppy tinha apenas 6 anos. Comecei a achar que nenhuma atriz tão pequena poderia arcar com a complexidade da personagem. Troquei a idade para 11 anos, mas quando Quvenzhané Wallis surgiu, não tive a menor dúvida de que havia encontrado minha Puppy. Ela tinha 8 anos (faz 10 em 2013), mas sua maturidade já era impressionante.”

INDOMÁVEL SONHADORA – Título original: Beasts of the Southern Wild. Direção: Benh Zeitlin. Gênero: Drama (EUA/2011, 92 min.). Classificação: 10 anos

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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