Indagações constantes se colocam com a obra da pintora Marina Saleme – qual a real existência das coisas? A figura está ou não presente? Até que ponto se pode experienciar o apagamento? Na exposição que a artista inaugura amanhã na Galeria Luisa Strina, vemos esses questionamentos através de pinturas (duas de grande formato), fotografias (feitas com celular) e de 150 pequenas obras em técnica mista que formam dois painéis nos quais uma narrativa sobre perda, morte, abandono e paixão “acontece mais pela acumulação ou insistência das mesmas imagens”, como diz a artista, e não por uma decisão deliberada.
“Meus trabalhos nunca são totalmente abstratos”, diz a pintora paulistana, nascida em 1958. Na mostra Figurantes, Marina Saleme explora sentidos poéticos sobre o protagonismo da figura em trabalhos realizados nos últimos três anos. Mas as obras reunidas na exposição guardam também, como é usual, a lentidão velada de seu processo criativo.
A extensa série de 150 pequenas obras, intitulada Garotas (As Descabeladas), remete a uma sequência de páginas de um livro de contos pregado em duas paredes da galeria. Criados entre 2009 e 2011, esses trabalhos feitos sobre lona, com formato de cerca de 40 cm X 30 cm, nasceram de um exercício espontâneo de pintar e desenhar diminutas e diluídas cenas com uso de óleo, acrílica, lápis e até do bordado. Um caráter intimista se estabelece nessas obras, nas quais Marina explora várias formas de apagamento da imagem e recorre a uma paleta diversificada.
A pintora joga com a repetição e anulação de figuras – as femininas prevalecem – ao longo dos pequenos trabalhos. Na narrativa que surge, mulheres sofrem – “puxam seus cabelos”, “estão desesperadas”. Por vezes, grupos de pessoas são representados como que velando mortos. E há ainda o casal apaixonado; ou “a solitária e o solitário”, deitados sobre ilhas. Marina conta que preferiu usar lona a papel justamente porque o material permitiria uma experimentação pura. Possibilitaria “resistência às várias investidas” de técnicas diversas.
MARINA SALEME – Galeria Luisa Strina. Rua Padre João Manuel, 755, 3088-2471. 2ª a 6ª, 10 h/ 19 h; sáb., 10 h/ 17 h. Grátis. Até 16/3.
Abertura amanhã, 19 h.
As informações são do jornal O Estado de S.Paulo