Quentin Tarantino ataca com Kill Bill – Volume 2

Terceiro filme mais visto do Festival do Rio 2004, Kill Bill Volume 2, que estréia hoje na cidade, deve monopolizar a atenção do público que vibrou com Uma Thurman no primeiro filme. Por mais eletrizante que fossem as lutas daquele filme – o combate no night club, quando a heroína enfrenta uma legião de criminosos; o desfecho no jardim, a luta com Lucy Liu -, Kill Bill não era um filme completo em si mesmo. Tudo ficava pendente no fim. Era só preparativo. Agora, no Volume 2, tudo se encaixa e a saga da Noiva finalmente faz sentido.

Antes de mais nada, é um filme de cinéfilo, que poucos terão a pretensão de assimilar e entender nos mínimos detalhes. Em entrevista, Uma Thurman disse que o conhecimento do diretor Quentin Tarantino sobre artes marciais ultrapassa a mais delirante fantasia dos admiradores do gênero. Cada cena do díptico refere-se a um filme que ele viu e o marcou. A música não é somente de filmes de Hong Kong. O spaghetti western e os filmes de samurai também fornecem motivos musicais e gestos essenciais. Claro, nada disso é alta cultura – embora, na verdade, possa ser, já que os filmes de artes marciais são a mais legítima expressão da cultura chinesa. Talvez não seja “a” mais, mas é, com certeza, uma das mais importantes.

Há até um paradoxo que vale analisar – Kill Bill já foi definido como cultura pop e, como tal, considerado descartável. Também não é verdade – o pop raramente, ou nunca, se estrutura sobre todas essas referências que alimentam o imaginário de Tarantino. Figura curiosa, a desse diretor. Surgiu espetacularmente, no começo dos anos 1990, com Cães de Aluguel ao qual se seguiu Tempo de Violência (Pulp Fiction). O próprio título já indicava a intenção de Tarantino de fuçar no lixo da cultura clássica, o pulp. Foram dois filmes singularmente violentos, mas com tantas qualidades de diálogos e mise-en-scène – o diretor arma suas cenas de ação e tiroteio como só os maiores na história do cinema – que Tarantino virou cult.

Seguiu-se uma fase meio errática, em que Tarantino influenciou (e sofreu a influência de) Robert Rodriguez. Não fizeram bem um ao outro. Mas Jackie Brown também possuía uma beleza (e uma tristeza) naquele desenho de personagem feminina. E aí veio o díptico Kill Bill. Um primeiro filme de exposição, o volume 2 de desenvolvimento e conclusão. Personagem com origem nos mangás, a Noiva, ao contrário de Jeanne no policial de François Truffaut, não se veste de preto, mas de branco. E caça, um a um, os integrantes do bando selvagem criado por Bill e do qual era parte integrante até abandoná-lo para se casar. Na hora do casamento, Bill e sua gangue promovem um banho de sangue. O noivo é morto, a noiva – grávida – também é dada como morta, mas sobrevive para vingar-se.

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