Quem sou eu?

Saber quem somos nos intriga e nos intimida. Isso porque a única possibilidade de auto-definição segura está no passado. Sim, nossas ações e omissões nos dizem apenas quem, de fato, fomos, mas não quem somos. E o presente é o tempo que nos interessa porque o passado é passado, pronto e acabado.

Nesse passo, a matriz do ser não está nas ações e sim na própria existência. Se procuramos descobrir quem somos, devemos ir além da esfera das ações, aprofundando-nos no abismo da existência individual humana. Lá, estaria a essência do verdadeiro ser.

Porém essa existência individual, uma vez em contato com o mundo das ações e omissões, acaba sempre corrompida por uma infinidade de regras e condicionamentos mentais estabelecidos historicamente pela coletividade. Ou seja, temos uma constante batalha entre o ser individual e o ser coletivo.

E a questão ganha o seu contorno mais dramático quando constatamos que a existência individual não é realmente individual e sim surpreendentemente composta de múltiplas identidades. Então, iniciamos o processo de negação, tentando desesperadamente acreditar que existe apenas uma identidade, aquela que permitimos existir, aquela que aceitamos e aprovamos, na qual nos reconhecemos. Contudo, a todo instante nos deparamos com o surgimento, ou ressurgimento, de alguma identidade inconveniente ou inoportuna.

Assim, tomados pela angústia de uma profunda incerteza, por um breve momento ficamos absortos em nossas reflexões, num estado enigmático de suspensão do ser, com apenas uma pergunta na cabeça: afinal, quem sou eu?

Djalma Filho é advogado djalmafilho@brturbo.com.br

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