E na última semana da Colônia de Férias, programação especial do Caixa Belas Artes, a proposta é uma série de sete clássicos de autores diversos, todos em película em 35 mm e um por dia, no horário das 18h30. Começa nesta quinta, 27, com “Queimada!”, de Gillo Pontecorvo, com Marlon Brando, e segue mostrando pela ordem – “A Lei do Desejo”, de Pedro Almodóvar, com Antonio Banderas, na sexta, 28; “O Passageiro Profissão: Repórter”, de Michelangelo Antonioni, com Jack Nicholson e Maria Schneider, no sábado, 29; “Morte em Veneza”, de Luchino Visconti, com Dirk Bogarde, no domingo, 30; “Contos de Cantebury”, de Pier Paolo Pasolini, na segunda, 31; “Concorrência Desleal”, de Ettore Scola, com Sergio Castellito, na terça, 1.º de agosto; e “Crônica do Amor Louco”, de Marco Ferreri, adaptado do livro de Charles Bukowski, com Ben Gazzara e Ornella Muti, na quarta, 2.
O italiano Pontecorvo foi sempre sinônimo de polêmica. Esquerdista de carteirinha, era irmão do físico Bruno Pontecorvo, que teve destacada participação nos estudos da bomba atômica soviética. No começo dos 1960, Gillo fez um filme sobre uma judia colaboracionista num campo de concentração. Kapò, com Susan Strasberg e Emmanuelle Riva, virou o filme que os críticos da revista Cahiers du Cinéma amavam odiar, tudo por causa de um travelling avante sobre a mão da personagem de Riva, que morria eletrificada na cerca do campo. A revista se indagava sobre a ética de um autor capaz de fazer aquele movimento “esteticista/sensacionalista” do aparelho?
Em 1966, nova polêmica, por “A Batalha de Argel”, que recebeu o Leão de Ouro em Veneza. Jean Tulard, no Dicionário de Cinema, acusa o filme de simplista na abordagem do colonialismo francês no norte da África. Nascido para celebrar a importância do terrorismo político nos movimentos de libertação, ninguém imaginava que, no pós-11 de Setembro, “A Batalha de Argel” viraria objeto de estudo no Pentágono dos EUA, justamente pelo que revela dos métodos revolucionários. Pontecorvo já havia morrido – em 2006 -, mas nem por isso foi poupado. A derradeira acusação que lhe fizeram foi estar servindo, post mortem, ao imperialismo norte-americano. Em princípio, nada menos aparentemente contrário às reais intenções de Pontecorvo.
Justamente “Queimada!” No longa de 1969, Pontecorvo reconstitui um levante de escravos em Guadelupe. Marlon Brando faz o agente da repressão. Caça o líder do movimento, José Dolores, interpretado por um não profissional, Evaristo Márquez. Brando, na época, estava numa fase de baixa de sua carreira. Ressurgiria, anos depois, com “O Poderoso Chefão”, de Francis Ford Coppola, e “Último Tango em Paris”, de Bernardo Bertolucci, ambos de 1972. Mas era o garoto propaganda do “método”, o estilo de interpretação do Actors Studio. Brando, poderoso, intenso. Márquez, o não profissional. Silencioso, eticamente forte. Pontecorvo filmou no forte de Cartagena, na Colômbia. O filme é extraordinário, o maior do diretor. E, incrível, fantástico, o não profissional devora o astro. Você não vai esquecer nunca mais a máscara de Evaristo Márquez.