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Queda na receita e tragédia em Brumadinho prejudicam saúde financeira do Inhotim

As obras de artistas brasileiros e estrangeiros esparramadas pelos 140 hectares de jardins coloridos e lagos exuberantes do Inhotim já não são mais tão vistas. O maior centro de arte contemporânea a céu aberto do Brasil, e um dos mais importantes do mundo, registra hoje o que pode ser o pior momento financeiro de sua história, com queda nas receitas de ingressos e de contratos de projetos e convênios. A julgar pelos números, o cenário é dramático. A tal ponto que a empresa de auditoria Ernest & Young, responsável pela realização do balanço financeiro do Inhotim, alerta para a possibilidade de fechamento do museu.

Todos os indicadores que apontam para o quadro preocupante das finanças do centro, localizado em Brumadinho, na Grande Belo Horizonte, são referentes a 2018 e anos anteriores, portanto, não refletem o impacto do rompimento da barragem da Vale no município, em 25 de janeiro de 2019. Isso torna o futuro do museu ainda mais nebuloso. Em relatório enviado aos administradores e conselheiros do Inhotim em 8 de julho, a E&Y afirma que o rompimento da barragem da Vale “afetou e tem afetado diretamente o Instituto Inhotim”. Entre janeiro e agosto de 2019, já computadas, portanto, as férias de janeiro e julho, o total de visitantes foi de 174.938. O fluxo anual considerado normal é de 350 mil visitantes.

Em outro relatório, de 30 de julho do ano passado, elaborado com base no balanço de 2017, a empresa de auditoria, em tópico chamado de “Incerteza relevante relacionada com a continuidade operacional”, abordou pela primeira vez a possibilidade de fechamento do Inhotim. O texto diz: “Chamamos a atenção para as demonstrações contábeis, que indicam as ações tomadas pelo instituto diante da redução das doações recebidas no ano. Essas condições indicam a existência de incerteza significativa que pode levantar dúvida significativa (sic) quanto à capacidade de continuidade operacional do instituto”.

O presidente do Conselho de Administração do Inhotim, Ricardo Gazel, afirma que a nota “é praxe”, colocada quando ocorre mudança maior em algum fluxo de receita. O executivo confirma quedas nas receitas do instituto, influenciadas pelo surto de febre amarela no final de 2017 e em 2018, pela crise econômica e pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, mas nega que o Inhotim vá fechar.

A E&Y diz ainda que as “demonstrações contábeis foram preparadas no pressuposto de continuidade normal dos negócios do instituto, e não incluem quaisquer ajustes que seriam requeridos no caso de eventual paralisação e/ou descontinuação de suas atividades. Nossa opinião não contém ressalva relacionada a esse assunto”, finaliza a Ernest & Young. Em 2017, o Inhotim registrou doações de R$ 8,3 milhões, menos da metade do ano anterior: R$ 17,2 milhões.

A mesma nota de alerta foi colocada no relatório da Ernest & Young enviado ao comando do Inhotim em 8 de julho, relativo ao balanço de 2018. O alerta permaneceu, mesmo depois de as doações, naquele ano, terem atingido R$ 11,1 milhões – R$ 2,8 milhões a mais que em 2017. Por outro lado, a receita com ingressos caiu no mesmo período de R$ 8 milhões para R$ 6,3 milhões. Nos patrocínios e convênios, também em 2018 ante 2017, a redução foi de R$ 16,3 milhões para R$ 10,5 milhões.

Colocados de lado os números de balanços, apontados sempre como tão frios, passemos aos que não precisam de análises profundas para ser interpretados. Na rodoviária da capital, o ônibus que parte para o museu saiu, na sexta, 20, com 10 passageiros. No sábado, 19. E, no domingo, 13. Um homem, frequentador das plataformas de embarque da rodoviária de Belo Horizonte, comentou: “O dia que mais enche é quarta. Às vezes, saem dois ônibus”. Às quartas, a entrada no Inhotim é grátis. O veículo tem capacidade para 42 passageiros.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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