O filme Que Horas Ela Volta?, de Anna Muylaert, que conta a história de Val (Regina Casé), uma doméstica que trabalha e mora na casa de uma rica família paulistana e passa a perceber o abismo entre patrão e empregada quando recebe a visita da filha, Jéssica (Camila Márdila), será o representante do Brasil na disputa pelo Oscar 2016 de melhor longa estrangeiro. O anúncio foi feito nesta quinta-feira, 10, no Palácio Gustavo Capanema, centro do Rio, depois de reunião dos sete jurados.

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O júri foi unânime na expectativa de que a escolha atraia o público brasileiro e melhore a bilheteria nacional do filme, que rendeu a Regina Casé e Camila Márdila o prêmio de melhor atriz no Festival de Sundance, nos Estados Unidos.

Em duas semanas em cartaz, o longa teve 66,1 mil espectadores. Outra produção brasileira, Linda de Morrer, com Glória Pires, teve 734,7 mil espectadores em três semanas de exibição.

“Um dos aspectos que a gente considera importantes é a carreira do filme no Brasil. Ao contrário da carreira internacional, o filme não vai tão bem quanto merecia. Com essa indicação, tem a possibilidade de alavancar a carreira no Brasil. Muitas vezes as pessoas não veem bons filmes por absoluta falta de conhecimento de que o filme está sendo exibido, é difícil para o filme brasileiro chamar atenção do espectador brasileiro, mesmo com qualidades excepcionais, como é o caso desse filme”, afirmou a jurada Silvia Rabello, presidente do Sindicato Interestadual da Indústria Audiovisual (Sicav).

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“É um pleito de nós todos, mais que uma escolha estratégica, do ponto de vista de levar um filme brasileiro para fora, que nossa decisão reverbere positivamente no âmbito interno e ajude esse filme a ter uma visibilidade popular maior do que teve até agora. Ele não teve a visibilidade que não apenas merece, mas que precisa. É um filme que traz algo novo, mas não livre da tradição do cinema brasileiro, que começa em 2012, com O Som ao Redor, de reorganizar nosso discurso sobre a classe média”, disse o crítico Rodrigo Fonseca. Segundo ele, o filme teve 150 mil espectadores apenas na França e também é sucesso de bilheteria na Itália e em outros países europeus. “Há nesses países um interesse por esse novo Brasil, por essa nova identidade brasileira”, acrescentou.

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Na definição de Fonseca, “o filme é um retrato afetivo sobre as transformações do Brasil pós-Era Lula, depois da emergência das classes C e D”. “Considero o personagem da filha o mais revolucionário, embora não fale em revolução, do cinema brasileiro dos últimos tempos”, elogiou o cenógrafo e produtor Marcos Flaksman.

O cineasta Daniel Ribeiro, indicado ano passado pelo Brasil para concorrer ao Oscar 2015, com Hoje Quero Voltar Sozinho, que não ficou entre os finalistas, disse que o sucesso internacional obtido por “Que Horas Ela Volta?” aumenta a chance de atrair o interesse dos jurados do Oscar, que não têm obrigação de assistir a todos os 83 títulos indicados para melhor filme estrangeiro, mas se interessam pelos que se destacam em festivais. “Quanto mais elementos positivos você tem para chamar atenção da Academia, melhor”, afirmou.

A escolha do filme foi anunciada pelo coordenador da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura (MinC), Lula Oliveira. Também fizeram parte do júri o chefe do Departamento Cultural do Ministério das Relações Exteriores, George Torquato Firmeza, e o chefe da assessoria internacional da Agência Nacional de Cinema (Ancine), Eduardo Novelli Valente. Os cinco finalistas aos Oscar 2016 serão anunciados no dia 14 de janeiro.