A Mostra de Teatro Conteporâneo trouxe mais de 21 produções de todas as regiões do país, sendo que sete são estréias nacionais, além de um espetáculo internacional. As peças, que foram escolhidas por três curadores: a pesquisadora carioca Tânia Brandão, o crítico paulista Celso Curi e a jornalista paranaense Lúcia Camargo, mostram os novos caminhos e os novos conceitos de importância na cena brasileira contemporânea e, também, novos nomes.
O evento também tem o Fringe, criado na sétima edição do Festival de Curitiba (em 1998) e inspirado no modelo do Festival Internacional de Edimburgo, na Escócia, onde grupos que não estavam na programação oficial da mostra resolveram criar um evento paralelo do qual todos pudessem participar. Neste ano, teve a participação de companhias de 20 estados brasileiros, mais o Distrito Federal e produções vindas de outros países. Assim como em Edimburgo, o Fringe não tem curadoria. Sua função é ser um espaço democrático, de crescimento da oferta de espetáculos, que reflita a riqueza e variedade das artes cênicas.
Logo abaixo, as sínteses das quatro peças que estréiam a partir desta sexta-feira (28) na Mostra de Teatro Contemporâneo:
Cruel
São nos movimentos e na expressão que a Companhia lança as peças do jogo. |
O espetáculo – com criação, coreografia e direção de Deborah Colker – propõe um enigma: uma série aberta de elementos narrativos que só se completa com o olhar do espectador. Corpos em movimento que exigem a decifração, um novo jogo entre o Acaso e a Necessidade. Histórias ordinárias, daquelas que se repetem invariavelmente na vida das pessoas, e que envolvem amores, amantes, família, laços que atam e desatam. Histórias quase sempre cruéis. O espetáculo de dança se desenvolve em quatro principais momentos, em dois atos. São nos movimentos e na expressão dos 17 bailarinos da companhia que a Cia lança as peças do jogo, sem qualquer compromisso com a explicitação do sentido, mas sim com a exigência de sua produção. Os figurinos são uma leitura ao mesmo tempo clássica e contemporânea dos trajes de grandes bailes.
Foto: Divulgação |
Helena, uma mulher pragmática, culta, independente e de opiniões fortes. |
A Ordem do Mundo
O monólogo – dirigido por Aderbal Freire Filho e interpretado por Drica Moraes – retrata o cotidiano de Helena, uma mulher pragmática, culta, independente e de opiniões fortes, que vê o mundo e o comenta de forma pessimista, mas com muito humor e sarcasmo. O espetáculo trata da perda dos limites estipulados socialmente para determinar o que é moral, o que é normal. O público é levado a refletir sobre o mundo moderno, a mulher contemporânea, as relações sociais e a religiosidade, e tirar suas próprias conclusões.
Deserto
O espetáculo é formado por histórias que nascem de repertórios e processos criativos individuais e que entram no campo ficcional, ampliando as possibilidades de comunicação entre artistas e público. Sem texto prévio a ser encenado, ?Deserto? baseia-se na investigação sobre os caminhos da criação artística e nos processos de re-significação do mundo através da arte. A Companhia Brasileira de Teatro reúne-se a artistas que fazem parte ou influenciaram a sua trajetória e propõe um exercício aberto de teatro, de comunhão na arte, de alegria e desmesura. Direção de Marcio Abreu; no elenco: Luís Melo, Simone Spoladore, Márcio Vito, Bianca Ramoneda.
Salmo 91
Foto: Divulgação |
São crônicas fascinantes sobre formas |
O espetáculo é uma adaptação do best seller Estação Carandiru, de Dráuzio Varella. O texto montado pelo jornalista e dramaturgo Dib Carneiro Neto traz para o teatro pessoas tão diferentes de nós e tão iguais a nós: ?cidadãos livres?. São crônicas fascinantes sobre formas de viver e morrer em estado de violência, descaso ou confinamento. Na hora de elaborar a estrutura da peça, o autor misturou personagens, mesclou capítulos, colocou falas na boca de alguém que não disse exatamente aquilo naquele momento, mas sempre mantendo as situações que estão no livro. O diretor Gabriel Villela teve a idéia de chamar cinco atores (Pascoal da Conceição, Rodrigo Fregnan, Pedro Moutinho, Ando Camargo e Rodolfo Vaz) e fazer cada um deles defender dois personagens; o autor se rendeu à concepção do diretor.