Cinebiografias, em particular sobre músicos, é algo que chama a atenção do público. Geralmente porque esse filmes servem para quebrar paradigmas e mostrar que por trás daquele artista que você admira e que parece estar acima do bem e do mal, está uma figura humana que também comete erros (mais do que a gente imagina), possui fraquezas e são feitas de carne e osso, como a gente.

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A lista de filmes (incluindo os documentários) é enorme, que vão desde Frank Sinatra, passando por Edith Piaf, chegando até Sid Vicious (baixista do Sex Pistols). Muitas vezes eles tendem a ser honestos. Outras, nem tanto.

Um bom exemplo de filme honesto é The Doors, do diretor Oliver Stone, que mostra a vida, loucura e obra do vocalista da banda, Jim Morrison. Interpretado de forma brilhante pelo ator Val Kilmer (que, dizem, entrou tanto no personagem que quase enlouqueceu), o material não se furta em mostrar que, mesmo sendo considerado por muitos como um poeta e um gênio, Morrison era uma figura destrutiva, que usou e abusou das drogas. Ou seja, o filme mostra o quão louco era o líder da banda norte-americana, não aliviando o seu lado.

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Sam Riley, como Ian Curtis. 

Na mesma toada, temos Control – A Vida de Ian Curtis, outro longa que também não busca transformar o protagonista em um santo. Quem tem alguma noção de quem foi o vocalista do Joy Division, sabe o quanto ele era depressivo, melancólico e de como isso feria as pessoas ao seu redor, principalmente sua esposa, Deborah Curtis. Até para fortalecer essa visão pessimista e sufocante que Curtis tinha da vida, o filme foi todo filmado em preto e branco, que garante um resultado ainda mais interessante.

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Mais filmes que buscam dar ao espectador uma visão honesta sobre os artistas. Ray, cinebiografia de Ray Charles e que deu a Jamie Foxx o Oscar de melhor ator, também não se furta em meter o dedo na ferida, principalmente ao falar do vício em heroína, que, por muito pouco, não acabou com a vida de um virtuose na música. O Garoto de Liverpool também é outro que pode se encaixar nesta lista. O longa mostra a adolescência de ninguém mais, ninguém menos que John Lennon. Com o foco na difícil relação familiar do ex-Beatle, o longa cumpre o papel de mostrar este trecho da vida de Lennon.

Os não tão honestos assim

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Thiago Mendonça encarnou bem Renato Russo, mas roteiro ficou devendo no quesito
“honestidade”.
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Para começar com os filmes que ficaram devendo no quesito “verdade”, melhor começar por um clássico: Amadeus, longa que mostra a vida Wolfgang Amadeus Mozart, um dos maiores compositores que já pisaram neste planeta. Que fique claro, o longa é excelente, contudo, peca – e muito – ao transformar Antonio Salieri em um músico medíocre e vingativo (coisa que ele não era) apenas para dar a Mozart um nemesis.

Outro compositor clássico que não obteve uma cinebiografia honesta foi Beethoven, que, aliás, ganhou duas: Minha Amada Imortal e O Segredo de Beethoven. Vamos focar no segundo (até porque, confesso, assisti ao primeiro há muito tempo e não lembro direito dele). Qualquer texto sobre o compositor alemão o tratava como uma pessoa que tinha o péssimo gênio diretamente proporcional ao talento. Qual não foi a surpresa em ver que o cara que parecia um rinoceronte com dor de dente se transformasse em uma pessoa suave e até mesmo gentil. Isso sem falar que quando ele está regendo a Nona Sinfonia ele copia os movimentos de uma pupila (que nunca existiu). Não deu para engolir.

Dois filmes nacionais, que tratam sobre Cazuza e Renato Russo, duas grandes figuras da n,ossa música, também acabaram sofrendo com o fato de omitir ou mesmo inventar fatos importantes. O primeiro peca por sequer falar algo sobre o romance com Ney Matogrosso. Ao menos, não se furta em mostrar todos como Cazuza era “exagerado” (sim, o trocadilho foi intencional).

Já Somos Tão Jovens, que fala sobre parte da vida de Renato Russo até o início com a Legião Urbana, vai além, ao mostrar até personagens que sequer existiram. Ora, se o objetivo é o de contar uma história que aconteceu, qual o motivo em mentir? Ok, o filme não é ruim, mas parece que faltou algo ao optar por esse caminho.

Bom, vou encerrando o assunto por aqui. Mas, caso o leitor resolva comentar sobre um filme que trata a biografia de algum músico em partiuclar, sinta-se à vontade para usar este espaço. Quem sabe não surja uma “parte dois” sobre o tema?