Público elege os melhores filmes na Mostra de SP

Leon Cakoff tinha o maior orgulho do formato de competição da sua Mostra. O público seleciona e, sobre esta pré escolha, o júri delibera e atribui o troféu Bandeira Paulista. No sábado, o segundo do evento, houve a tradicional coletiva do júri, coincidindo com o anúncio dos filmes selecionados pelo público para concorrer ao troféu Bandeira Paulista, nas categorias de ficção e documentário.

Houve um tempo, durante a ditadura, que a Mostra era o único lugar do Brasil onde as pessoas podiam exercer o democrático direito do voto. Isso faz parte da história do evento. O tempo mudou, as condições são outras, mas um dos jurados – o diretor canadense de origem armênia Atom Egoyan, que vai receber o prêmio de carreira Humanidade Leon Cakoff -, disse que já foi a muitos festivais, mas nunca encontrou nenhum com esse formato tão democrático. Outro jurado, o francês Frédéric Boyer, acrescentou que conhecia os filmes mais votados pelo público e foi definitivo – “O público da Mostra é um excelente programador.”

Renata de Almeida, a quem cabe agora levar a Mostra adiante, após a morte do marido, Leon, observou que o público, sempre soberano, costuma surpreender. “Às vezes a gente jura que determinado filme estará entre os selecionados e não. Outros que você duvida, sim. O importante é que essa escolha de filmes tem a cara da Mostra.” Os dez, na verdade 12 títulos de ficção selecionados, não incluem nenhum brasileiro. São filmes das mais variadas procedências, mas a maioria esmagadora de países da Europa. Um norte-americano (em coprodução com a Alemanha), um latino-americano, nenhum asiático.

Existem três brasileiros entre os dez documentários selecionados – e quatro títulos dos EUA (um em coprodução), o que faz dessa inesperada conexão brasileiro/norte-americana a mais vinculada ao real. Não existem temas dominantes nem nas ficções nem nos documentários, talvez o preconceito, que a jovem nazista de “Combat Girls” assume e a garota de “A Casa” rejeita. Mas a nazista é colocada em xeque por seu desejo por um homem, e ele é afegão. A outra sofre porque sente que a casa construída por seu país poderá vir a ser muito bem um túmulo para a pessoa melhor que ela gostaria de ser.

Ao longo destes 35 anos, a Mostra tem celebrado a diversidade. Pode-se construir outra identidade no mundo global? O ‘estrangeiro’ de Halabja volta para casa, no Curdistão iraquiano, e encontra o próprio nome numa lápide. Dado como morto, construiu outra vida e agora busca os pais biológicos. Mas quem é ele, realmente? Outra história de busca de identidade, e um sutil conflito entre pais e filhos, em Jiro Dreams of Sushi. O pai é um reatrateur que busca o sushi perfeito. O filho, esmagado pela tradição, indaga-se se ocupar seu lugar é o que pretende ou se, como a garota de A Casa, não gostaria de ampliar seus horizontes.

Já que estamos falando tanto em democracia, o que é essa violenta repressão lançada contra os que protestam contra os poderosos reunidos em Genebra? O espanhol Zabán, em “Sobre o Poder”, retoma uma discussão relevante. A Mostra, que não foge ao debate, anunciou no sábado que Mohsen Makhmalbaf, depois de participar de um seminário em Porto Alegre, trará a São Paulo o filho de sua filha, proibido no Irã. A Mostra, 30 e tantos anos, segue sendo o espaço da democracia. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Os Eleitos

Ficção:

– “A Casa”, de Zuzana Liová, República Checa

– “Combat Girls”, de David Wnendt, Alemanha

– “Fim de Semana à Beira-Mar”, de Pascal Rabaté, França

– “Montevidéu – O Sonho da Copa”, de Dragan Bjelogrlic, Sérvia

– “O Dedo”, de Sergio Teubal, Argentina/México

– “O Futuro”, de Miranda July, EUA/Alemanha

– “Olhando Espelhos”, de Negar Azartbayjani, Irã

– “Respirar”, de Karl Markpovics, Áustria

– “Uma Família a Três”, de Pia Strietmann, Alemanha

– “Uma Viagem”, de Nejc Gazvoda, Eslovênia

– “Vida Que Segue”, de Geraldine Doignon, Bélgica

– “Vulcão”, de Runar Runarsson, Dinamarca/Islândia

Documentário:

– “Além do Ícone”, de Hanna Swaka Hamaguchi, EUA

– “A Nave”, de Luiz Otávio de Santi, Brasil

– “Batidas, Rimas & Vida”, de Michael Rappaport, EUA

– “Calvet”, de Dominic Allan, Inglaterra

– “Halabja – As Crianças Perdidas”, de Akram Hidou, Alemanha

– “Jiro Dreams of Sushi”, de David Gelb, EUA

– “Making Of – Tropa de Elite 2”, de Alexandre Lima, Brasil

– “Marathon Boy”, de Gemma Atwal, Índia/Inglaterra

– “Sobre o Poder”, de Zaván, Espanha

– “Vai-Vai: 80 Anos nas Ruas”, de Fernando Capuano, Brasil.

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