Em um país como o Brasil, onde há cerca de 16 milhões de analfabetos, o hábito de ler livros é para poucos. E para muitos que talvez tenham a oportunidade (principalmente em se tratando de crianças e adolescentes), ler é uma atividade penosa, diretamente associada às obrigações da escola. Porém, ainda existem pessoas que se empenham em disseminar a literatura entre as crianças, se esforçam em mostrar que ler é uma ação prazerosa e que pode ser bastante útil para a vida. Essas pessoas têm em mente que as crianças podem (e devem) adquirir o costume desde muito cedo.
Em todo o Paraná há locais onde o único objetivo é estimular o hábito da leitura entre as pessoas, desde a iniciativa privada até o poder público. A Bisbilhoteca, de propriedade da psicóloga Cláudia Serathiuk, além de vender livros de literatura infantil (são cerca de três mil títulos), promove todos os sábados ?contação? de histórias, com entrada gratuita. Já as oficinas de literatura, ministradas por professores da Athurma (projeto de incentivo à leitura) ocorre todos os dias, entre 14h e 18h (os valores podem ser verificados na Bisbilhoteca: 41-3223-3038). O local funciona há apenas nove meses, e foi fruto de um sonho de Cláudia. ?Sempre fui apaixonada por leitura, cresci freqüentando a biblioteca do meu bairro. Como vi que não havia uma livraria somente para o público infanto-juvenil em Curitiba, decidi tomar a frente do projeto?, conta.
Segundo ela, a idéia não é só despertar nas crianças o gosto pela leitura. ?Ensinamos a elas todo o processo de confecção do livro também. Percebemos que quem consome leitura é quem tem informação. Pode ser que no futuro essas crianças até nem sejam grandes leitoras, mas terão conhecimento pelo menos?, diz a psicóloga.
Foto: Anderson Tozato |
Cláudia Serathiuk: quem consome leitura é quem em informação. |
As jovens Maria Luisa e Marina passam as tardes na Bisbilhoteca. Animadíssimas, elas dizem que adoram ler e representar as personagens dos contos de fada. A professora de uma das oficinas da livraria, Hérica Veryano, diz que as crianças não só ficam conhecendo as histórias, mas também constroem o seu próprio texto, fazendo uma releitura. As crianças também fazem apresentações teatrais do que aprenderam. ?O legal disso tudo é que elas aprendem não só o texto, mas aprendem a falar em público e distinguir os elementos mais importantes de uma história?, diz Hérica.
A Bisbilhoteca tem outro trabalho interessante, que é a contação de histórias para bebês, uma vez por semana. Como agora é época de férias, a atividade não está acontecendo, mas a idéia de Cláudia é dar continuidade durante o ano.
Casa de leitura
A Fundação Cultural de Curitiba (FCC) também coordena diversos projetos de disseminação da leitura entre jovens e crianças, entre eles a Casa da Leitura, que fica no Parque Barigüi. Lá, os visitantes encontram um acervo todo dedicado à faixa etária e, a partir de março, abre a temporada de atividades, como a contação de histórias e oficinas. Os artistas que ministram as atividades são contratados pela FCC por meio de edital. As oficinas se estendem em outras bibliotecas e em escolas da rede pública (as visitas podem ser agendadas também).
De acordo com o diretor de Ação Cultural da fundação, Beto Lanza, a idéia é transformar todas as bibliotecas em Casas da Leitura. O primeiro passo para isso será a inauguração, até o final deste ano, da segunda Casa da Leitura de Curitiba, no Parque São Lourenço. ?No Brasil temos muitos leitores, mas poucos de literatura. O acesso ainda é pequeno, ou porque a educação da família não primou por isso, ou porque as políticas públicas não ajudam. É um trabalho de longo prazo, que precisa ser inserido na criança. Mas se modificarmos o olhar do adulto também chegaremos na criança?, comenta Lanza, lembrando que a casa também tem rodas de leitura para adultos.
Clube de leitura reúne adolescentes no norte
Em Maringá, no norte do Paraná, as cinco bibliotecas da cidade desenvolvem projetos de incentivo à leitura para crianças e adolescentes. No Clubinho da Leitura, estagiários universitários escolhiam autores e, durante as oficinas, conversavam com as crianças sobre eles e também sobre as histórias. Logo em seguida eram desenvolvidas atividades (de pintura, desenho, entre outras) sobre o assunto com as crianças.
Mas no ano passado, como explica a gerente de Promoção da Leitura de Maringá, Fernanda Mecking, os estagiários começaram a trabalhar com temas. Neste ano, a idéia é explorar os contos de fada. Segundo ela, o objetivo é transformar a biblioteca em um local agradável e divertido. ?Não queremos vincular a biblioteca à escola, as crianças vêm espontaneamente. Aqui a lei é a diversão, a gente tenta mostrar um outro lado para as crianças. Se ela vai virar um adulto leitor eu não sei, mas o importante é que abrimos as portas?, diz Fernanda. E os resultados são visíveis. ?Conversamos muito com as crianças, aos poucos até as mais tímidas vão se soltando. Percebemos nitidamente quem é incentivado em casa e quem não é?, diz a bibliotecária.
Com os adolescentes, o trabalho é mais recente, começou no ano passado, mas tem o mesmo êxito. Segundo Fernanda, o primeiro livro escolhido foi Harry Potter, em função do sucesso da obra, para incentivar mesmo a meninada. ?A idéia inicial era trabalhar apenas dois meses com o Harry Potter, mas a empolgação deles foi tanta que ficamos o ano inteiro em cima disso?, contou. Para a bibliotecária, não são só as crianças e os jovens que aprendem com as oficinas. ?É uma senhora aula para nós também. Às vezes a gente vai reler uma obra que nem lembrava mais, ou que até mesmo nunca tinha lido?, comenta. (MA)