Muitos estilos

Projeto revela a nova música da capital paranaense

Nos anos 90, a Revista ShowBizz batizou Curitiba como a Seatle brasileira. A declaração veio em razão da explosão da cena musical independente que lotava cada metro quadrado dos porões da cidade. Vinte anos depois, os reflexos do que foi produzido naquela época se abrem para um horizonte ainda maior, onde a diversidade musical não encontra barreiras.

Conhecedores da quantidade de bandas com projetos autorais relevantes, o trio formado pelo produtor musical Virgílio Mileo e pelos músicos Vladimir Urban (Sick Sick Sinners) e Emanuel Moon (Relespública) vêm matutando, há três anos o projeto Gravando Curitiba – realizado por meio do edital Bandas de Garagem 2010 da Fundação Cultural de Curitiba.

A ideia se sustenta em divulgar o trabalho de 12 novas bandas locais a partir de gravações em estúdio de EPs com cinco músicas. Os resultados serão apresentados a partir do final deste mês em uma série de seis shows gratuitos a partir do dia 28 deste mês, no TUC – Teatro Universitário de Curitiba.

Entremeado por diferentes estilos – alternativo, rock’n’roll, pop, psychobilly, reggae e rock instrumental – os grupos escolhidos desenham um panorama do que está sendo produzido em Curitiba.

Depois da árdua tarefa de seleção, as escolhidas foram: Bringtom, Manawaii, Pitecantropo, Te Extraño, Negomundo, LPs, Ecos, A Quarta Parede, O Trilho, Pão de Hambúrguer, Planadores e Cwbillys.

O encontro desses grupos forma um conjunto de sons diferentes entre si mas que, coletivamente, constroem a cena atual das bandas independentes. O que vai permanecer deste momento na memória musical da cidade e dos cidadãos é graças à ampla abordagem de estilos.

Abraçados à equação arte+produção+divulgação, os idealizadores são unânimes: para se colocar no circuito, os músicos precisam esparramar o olhar para além das funções essencialmente artísticas.

“Às vezes a banda é super boa, mas não tem um material gravado com qualidade para apresentar”, sintetiza o músico Vladimir Urban. “Cuidar de uma música é como cuidar de um filho, ela nasce e precisa de um acompanhamento. Em Curitiba isso é difícil porque não existem produtores musicais, ainda não existe essa mentalidade”.

O reflexo da falta de profissionais de produção é que muitas bandas acabam isoladas, sem despontar no cenário musical nacional. “Curitiba já foi a Seatle brasileira, mas hoje não tem mais bandas estouradas”.

A sugestão dos três músicos é resgatar essa mentalidade, unindo todas as ferramentas necessárias para uma divulgação eficiente. Um dos pontos chave nesse assunto é a internet.

Assim, Virgílio, Vladimir e Emanuel decidiram abrir o processo artístico – ou pelo menos boa parte dele – em um site. Na forma de um blog, o www.gravandocuritiba.com.br converge informações das bandas, fotos, releases e músicas para download. A página também vai transmitir, em tempo real, os shows no TUC.

Nas últimas semanas, o Studio Audio Stamp, no Alto da XV, é o espaço onde algumas da dúzia de bandas estão tendo a experiência de gravar pela primeira vez.

É de lá que vai sair o material que será levado às rádios, TVs, gravadoras e produtores de shows. Em formato de um boxe com todos os discos, o compêndio será distribuído ainda a festivais de bandas independentes de todo o País.

O estúdio também funciona como um QG: nos encontros, idéias e opiniões são colocadas na mesa e o trabalho coletivo impulsiona o projeto. Foi assim que surgiu a concepção estética do material gráfico criada por FF, músico da banda A Quarta Parede.

A arte padrão dos discos busca uma ligação com a cidade ao apresentar fotos de ônibus do transporte coletivo, sendo uma cor diferente para cada banda. O con,tato das bandas entre si vai acontecer também no palco: os shows -que seguem até o dia 29 de outubro – reúnem duas bandas a cada dia. “Isso dá um caráter de mistura mesmo. O público de uma banda vai pode conhecer o som da outra no mesmo local”, completa Moon.

Shows

Os músicos lamentam o fechamento de casas de shows importantes na cidade, como o Espaço Cultural 92 graus. De propriedade de JR Ferreira, o lugar conhecido como “o porão mais rock de Curitiba” recebeu o último show em dezembro de 2005, depois de 14 anos de funcionamento.

O 92 foi um desses lugares abertos à experimentação, onde se apresentavam bandas não só as curitibanas, mas de outras cidades e até algumas internacionais.

A casa abrigava o mais antigo festival de música independente brasileiro, o National Garage, com as principais bandas do circuito na época. As primeiras edições foram em 1992 e, no ano de fechamento do espaço chegou a reuniu cem bandas em dez dias.

“Foi uma perda muito grande para a cena alternativa. Mas ainda assim temos outros lugares legais para tocar na cidade, como bares e casas noturnas”, diz Moon, que cita o exemplo do Kubrick Bar, na Rua Trajano Reis, que recebe as bandas aos sábados, “dia internacional dos shows”.

Serviço

Shows no TUC.
Galeria Júlio Moreira, s/n.º -Largo da Ordem, a partir das 20h.
Dia 28 de agosto: Bringtom e Manawaii.
Dia 11 de setembro: Pitecantropo e Te Extraño.
Dia 25 de setembro: Planadores e LP’s.
Dia 09 de outubro: Ecos e A Quarta Parede.
Dia 23 de outubro: O Trilho e Pão de Hambúrguer.
Dia 29 de outubro: Negomundo e Cwbillys.

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