As últimas semanas têm sido bastante ocupadas para os alunos do Minha vila filmo eu. Willian Duarte Coutinho, 18, Ana Caroline Paulino, 14, Lúcia e Martha Pego dos Santos, 16 e 17 anos, se encontram diariamente na sede do Projeto Olho Vivo, no bairro Rebouças, concentrados em finalizar o filme Vila das Torres 2014. O esforço é daqueles agradáveis – para os adolescentes se trata da concretização de um trabalho colaborativo realizado ao longo do último ano. A intenção do Minha vila filmo eu é aproximar o cinema de meninos e meninas que habitam o bairro Vila das Torres, bem próximo ao centro de Curitiba. O contato com as técnicas e a narrativa audiovisual possibilita aos jovens a abertura de um olhar crítico: as impressões acerca da vida da comunidade inspiram histórias e imagens que são impressos na tela.
“A vontade é de despertar esse olhar para o local onde vivem. Queríamos sair da posição de quem vê de fora para revelar a comunidade a partir de quem mora nela”, destaca Luciano Coelho, coordenador do Projeto Olho Vivo. Os encontros serviram também para conversar sobre o cotidiano. Assim, alguns aspectos passaram a ser identificados por eles com mais claridade, como problemas de infra-estrutura, poluição e violência.
A menina aparentando uma idade próxima de oito anos, cabelos claros e sorriso largo percebe: “O rio Belém é bonito pro lado da PUC, mas pra cá é uma sujeira”. A afirmação veio no meio de uma conversa em uma das aulas da primeira turma do projeto, em 2005. Outros falam da violência: “Sempre tem um monte de balas naquela rua”, conta um menino, tão pequeno quanto ela, “lá é muito perigoso, não dá pra andar a noite”, completa o outro garoto. Esses instantes foram capturados em um documentário que registrou o decorrer das atividades, enquanto elas ainda aconteciam na sede do Clube de Mães.
Depois de cinco anos de realização, muitas crianças e adolescentes já passaram pelos cursos, viabilizaram várias produções – algumas premiadas – e terminaram fazendo parte de um núcleo de produção e pesquisa. Os assuntos, sempre ligados à vida na comunidade, são retratados em documentários como Vila das Torres – O sonho e a realidade, que retrata o trabalho de entidades sociais, ou em filmes como o curta-metragem de ficção Um grito na vila, inteiramente rodado com a participação dos alunos do curso.
O grupo que toca o projeto agora é egresso de horas de dedicação a várias oficinas do projeto. Talvez no início eles não imaginassem como a experiência iria se desdobrar em tantas possibilidades, que iniciou com a descoberta de uma habilidade para revelar novos horizontes possíveis.
“Desde o início do projeto o plano era mesmo ter um grupo de trabalho, como este de agora. A nossa vontade é que eles tomem a iniciativa”, o que Bruno Mancuso (coordenador do Minha vila) quer dizer é que os alunos foram responsáveis pela idealização do documentário que está para ficar pronto. Depois de longas conversas onde emergiram várias sugestões, a escolha do tema recaiu sobre a ideia sugerida por Willian, a de falar como a chegada da Copa 2014 influenciaria a vida da comunidade. O filme será exibido em canais comunitários e enviados para festivais de cinema.
No documentário, a escolha foi contar sobre a comunidade por meio do ponto de vista das pessoas que moram lá. “Nas entrevistas a gente vê o que já aconteceu e as mudanças que a gente quer que aconteçam. A gente passou a conhecer melhor a história da comunidade”, diz Willian. Os depoimentos traçam um histórico da vida na Vila das Torres, através de antigos moradores, times de futebol da comunidade e personagens curiosos.
Willian é o aluno que está há mais tempo no projeto. Ele começou com 13 anos e, agora, com 18,, já tem planos de continuar estudando cinema e ingressar em uma faculdade na área logo depois que terminar o terceiro ano do segundo grau. “Antes não tinha muita vontade porque não conhecia nada de cinema. Agora eu gosto de fazer quase tudo, principalmente a parte técnica, foi muito legal conhecer os equipamentos e saber como funcionam”. A aptidão em fazer roteiros já rendeu um prêmio a Lúcia, de 16 anos. “A história é sobre uma menina que começa o dia com o pé esquerdo e tudo dá errado no dia dela”. Com roteiro do curta nas mãos, ela ganhou uma oficina de dez dias em Vitória (no Espírito Santo) que incluiu aulas de roteiro, direção e fotografia. Para Lucia, tudo está no começo e os planos são muito claros: fazer faculdade de produção cênica na Faculdade de Artes do Paraná.