Um laudo técnico vai embasar a decisão de permitir ou não a realização de shows e grandes eventos na Pedreira Paulo Leminski, em Curitiba. Desde o ano passado, um dos mais tradicionais e conhecidos espaços culturais da cidade funciona com restrições. Uma ação civil pública foi impetrada pelo Ministério Público (MP) do Paraná por causa da poluição sonora desencadeada pelos espetáculos. No final do ano passado, o juiz da 4.ª Vara da Fazenda, Douglas Maciel Perez, determinou que as produtoras devem apresentar por escrito o tipo do evento que será realizado. O pedido passa por aprovação da Justiça.
O promotor de Meio Ambiente Sérgio Luiz Cordoni explica que o MP verificou o problema de poluição sonora e entrou com a ação. O barulho, segundo ele, pode interferir em uma área residencial, como a que a Pedreira Paulo Leminski está instalada. “O Ministério Público não é contra a cultura. Mas é uma questão de zoneamento. Ali é uma área residencial”, afirma.
De acordo com ele, será realizada uma perícia no local para detectar se há realmente ou não poluição sonora. O juiz responsável pelo caso já nomeou o perito que fará este trabalho. Cordoni esclarece que o prazo para a apresentação do resultado é determinado pelo juiz. “A perícia vai mostrar se é possível ou não realizar shows na pedreira. Se for possível, serão determinadas as regras. Se não for possível, acabou”, comenta.
O assunto gera muita polêmica e discussão entre moradores e comerciantes da região. Arlei Gava, que tem um sobrado e uma loja ao lado da Pedreira, não é contra a realização de shows. Mas ele acredita que sejam necessárias regras. “Se o show começar no horário estipulado e não ultrapassar as 22h30 ou 23h, não vejo problema. Tem que ser respeitado o lado dos moradores. Para os comerciantes, a volta dos shows é boa”, relata Gava, para quem o barulho não incomodava.
Waldilene Kowalski Eccher, que tem um restaurante na rua em frente à pedreira e mora em uma casa nos fundos, lembra que os dias de shows eram certeza de lucro, em virtude da grande circulação de pessoas. “Desde que fecharam a pedreira, nosso movimento caiu mais de 60%. A gente depende muito do turismo, mas isso acontece mais nos meses de férias”, conta.
O morador Marcos Antônio Romaniow se mostra a favor dos grandes eventos. “Muitos moradores reclamam dos carros em cima das calçadas. Eu e meus vizinhos cuidávamos disso. Eu abria a garagem da minha casa para fazer de estacionamento. Todo mundo fazia isso. A verdade é que todo mundo ganhava”, revela Romaniow, dizendo que o barulho era pouco na sua casa.
O morador Valdomiro Oliveira também não reclama do barulho e é favorável à reabertura da pedreira. Sueli Litz Krasinski, que mora em uma rua atrás da Pedreira, por onde chegam os artistas, fala que o barulho nunca incomodou a família dela. “Mas na casa da minha mãe, no Pilarzinho, dava para ouvir tudo”, pondera. Krasinski acredita que os shows devem ser realizados mais cedo para não atrapalhar tanto os moradores que se dizem afetados pela poluição sonora.
Abaixo-assinado
Um abaixo-assinado pela internet pede a adesão dos curitibanos para a reabertura completa da Pedreira Paulo Leminski. Por meio do site www.apedreiraenossa.com.br, é possível deixar uma assinatura eletrônica. Mais de 6,6 mil pessoas já fizeram isso. Este abaixo-assinado reativou as discussões sobre o assunto.
“A pedreira faz muita falta. É o nosso maior espaço cultural com mais de três mil pessoas de capacidade. Os eventos na Pedreira geravam empregos. Segundo os produtores, mil pessoas eram empregadas de forma direta ou indireta em cada show”, declara o vereador Jonny Stica, idealizador da campanha. De acordo com el,e, os eventos também geravam renda. “Não vejo onde a gente não ganhe com a pedreira”, avalia.
Ele recorda que três eventos realizados no local tiveram problemas com horários e o barulho alto. Mas, para o vereador, “não é uma solução razoável fechar o espaço por causa de três eventos”. A sugestão que ele dá é a formação de um cadastro de produtores. Aquele que não cumpre com os horários é punido e fica fora da lista por um período.
“Propomos que as partes envolvidas sentem para discutir s melhorias. Depois da perícia, vamos sentar e fazer propostas. A conciliação é o caminho”, diz. Já o promotor Sérgio Luiz Cordoni garante que toda a decisão será por via judicial, como com qualquer outro estabelecimento que apresente problemas.
Para ele, o abaixo-assinado é uma manifestação popular válida, mas “o Ministério Público não é movido por isto”. Ele ressalta que o documento pode ser assinado por pessoas que moram longe da pedreira e que não convivem com os problemas gerados em dias de grandes eventos.
Palco para grandes espetáculos
A diretora de ação cultural da Fundação Cultural de Curitiba, Luci Daros, explica que todos os eventos na Pedreira Paulo Leminski seguem a legislação vigente. Ela confirma que dois eventos passaram muito dos horários estabelecidos para o final dos meses e que os produtores foram punidos.
“A fundação está aberta para discutir. A prefeitura de Curitiba propôs algumas alterações de horário e funcionamento, como o show começar mais cedo e terminar no máximo até meia-noite nos finais de semana”, conta. Outra proposta foi a eliminação dos eventos com várias bandas. “Sempre existem atrasos. Show com cinco bandas é impraticável. A nossa sugestão é no máximo duas bandas”, afirma.
Daros lembra que a pedreira Paulo Leminski é um espaço único na cidade, com características próprias. Hoje, o local pode receber até 26 mil pessoas, segundo laudo do Corpo de Bombeiros. A pedreira se tornou espaço cultural em 1989 e homenageia o poeta e compositor curitibano Paulo Leminski. Entre inúmeros artistas e bandas nacionais e internacionais, o espaço presenciou grandes espetáculos, como o concerto com o tenor José Carreras, no aniversário de 300 anos da cidade, e o show de Paul McCartney.