Mensalão está na pauta do dia. Nas últimas semanas, a programação da tevê está saturada de notícias sobre a atual crise do governo federal, sob o comando do Partido dos Trabalhadores. Os telejornais até passam informações relevantes sobre o assunto. Mas aí entram os programas de entretenimento, que abordam o tema apenas para pegar carona no assunto tristemente da moda: o assalto aos cofres públicos. Sem aprofundar ou explicar nada, assumem o lado eletrodoméstico da televisão e servem aos espectadores um "refresquinho de crise". A lista dos banalizadores inclui os apresentadores Cacá Rosset, Jorge Kajuru, Hebe Camargo e Adriane Galisteu, do Fora do Ar, do SBT, e Luciana Gimenez, do Superpop, da RedeTV!. Mas certamente o mais nocivo de todos é Jô Soares, do Programa do Jô, da Globo.
No Fora do Ar, os apresentadores Cacá Rosset, Jorge Kajuru, Hebe Camargo e Adriane Galisteu bem que tentam explorar a crise do governo federal. Mas os comentários pífios impedem que a discussão passe muito de uma conversa de comadres, que protestam, se mostram chocadas e no final se consolam. A impressão é de que tocaram no assunto só para não deixar passar em branco. Luciana Gimenez do Superpop também tira sua "casquinha" do escândalo. Mas apresentadora assume sua visão de vida insustentavelmente leve. Tanto que desencavou a Mãe Dinah para prever o rumo da política. Nada mais banal e inócuo.
Mas no Programa do Jô as coisas tomam uma dimensão um pouco maior. Apesar disso, o comandante do talk-show da Globo aparentemente mantém uma única idéia fixa: ser visto através de uma aura de inteligência. E é apenas nesse sentido que se pode entender o porquê de Jô Soares resolver fugir de suas costumeiramente prosaicas entrevistas para tocar num assunto como a crise do mensalão. Ele usa o prestígio da emissora e o próprio para atrair figuras interessantes para o bem ou para o mal , como o deputado federal Fernando Gabeira, do PV/RJ, a senadora Heloísa Helena, do Psol/AL, a secretária Fernanda Karina Ramos Somaggio ou o deputado federal Roberto Jefferson, do PTB/RJ. E extrai delas o mesmo tipo de banalidade que tiraria de um criador de minhocas ou de um coveiro cantor. O problema para o apresentador é que, numa entrevista com político, não dá para sobreviver apenas com as piadas que escrevem para ele recitar no ar. É preciso tocar em algumas feridas. Nessas horas, Jô quase pede desculpas antes de fazer a pergunta mais contundente.
A impressão que se tem é que Jô Soares confia demais que a inteligência e própria ou a de quem sopra no seu ponto eletrônico é suficiente para se encarar qualquer situação. Enquanto a prática insiste em mostrar que, além de inteligência, é preciso algum preparo para que um trabalho seja bem-feito.