Programas de gastronomia trazem mais do que receitas culinárias

Os prazeres da mesa tomaram conta da programação da TV. O crescente número de programas sobre gastronomia reflete transformações no perfil do público, cada vez mais interessado não só em comer bem, mas também em se informar sobre os demais prazeres que acompanham o paladar. Até alguns anos atrás, os programas de culinária se restringiam a mostrar receitas fáceis para a dona de casa, ensinar truques de reaproveitamento de ingredientes e sobras de comida. Atualmente, além desse tipo de "prestação de serviço", ainda bastante comum nas emissoras abertas, produções que exploram outros sentidos além do paladar estão no cardápio do dia. Temas como viagens, comportamento e lazer se fundem com cada vez mais freqüência em programas comandados por reconhecidos chefs de cozinha, normalmente em tevês por assinatura. "Quando comecei a cozinhar, não havia tantos tipos de programas. Isso é reflexo da maturidade que o país tem alcançado com a gastronomia. Mas não se pode confundir um chef com um popstar", reflete a chef Roberta Sudbrack, que comanda o programa Boca-a-boca, no Multishow.

Essa foi uma das dificuldades da chef Flávia Quaresma, apresentadora do Mesa Para Dois com o chef Alex Atala, no GNT. Além da total falta de intimidade com as câmaras, a carioca mal acreditou quando passou a ser reconhecida nas ruas. "Faço um programa com um perfil mais intuitivo nas receitas, porque a gastronomia na tevê já saiu do prato. Tem gente que assiste ao programa e não cozinha nada, mas acha interessante", explica Flávia.

Na verdade, o público da tevê por assinatura está mais interessado em ingredientes diferenciados, como um azeite recomendado por um chef, por exemplo, enquanto os programas dessa linha na tevê aberta ainda seguem o formato tradicional. Muitos ainda seguem à risca o conhecido "feijão com arroz" de produções comandadas pelas cozinheiras Etty Fraser ou Ofélia Anunziatto, por exemplo, há quase duas décadas. No Receita Minuto da Band, o chef Daniel Bork garante que sua maior preocupação é oferecer um cardápio de baixo custo para a dona de casa. "Os programas por assinatura são lindos, mas nada práticos. Eu faço a realidade, não passo o glamour de uma novela das oito", alfineta.

Na mesma panela está o chef Eduardo Guedes, que cuida da parte de culinária do Hoje em Dia, nas manhãs da Record. "Minha intenção é fazer pratos baratos porque, quando o custo é alto, as pessoas preferem comer fora. Além disso, me preocupo em passar receitas onde os ingredientes possam ser encontrados em todo o país", valoriza.

Ainda na Record, o padeiro Olivier Anquier apresenta o quadro Diário do Olivier, no Domingo Espetacular. O francês, que há 27 anos vive no Brasil, estreou este programa em 1999 no GNT e se orgulha de ser o pioneiro em inserir demais ingredientes à gastronomia numa produção, como viagens que exploram sabores de diversas regiões. Depois do "boom" do "fast food" na década de 80, Olivier comemora o retorno da valorização da comida artesanal, que hoje se reflete na profusão de programas desta linha. "Culinária é cultura, por isso me permite falar de arte, de viagens, de conhecimento", explica, antes de emendar. "Há um tempo era triste ver culinária na tevê aberta. Hoje mudou o nível e a consciência", acredita.

Já nas tevês por assinatura, o poder aquisitivo mais elevado permite aos chefs e apresentadores um cardápio ainda mais variado de pautas. "Esses programas têm um pé no comportamento e um pé na gastronomia", observa o chef Felipe Bronze, que apresenta o Tá na Época, no GNT. "Este universo é muito vasto. É necessário focar a lente num assunto, pois os gostos mudam a cada dia", reflete o jornalista e enólogo Renato Machado, que apresenta, ao lado do chef Claude Troigros o programa Menu Confiança, no GNT.

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