Houve um tempo em que os festivais de música brasileira, promovidos pelas emissoras de televisão, arregimentavam multidões e enchiam ginásios. Suscitavam acaloradas manifestações de apoio aos artistas concorrentes. Não por acaso, entre as décadas de 60 e 70, quase todas as emissoras da época mantinham ou promoviam seus "concursos" musicais, que lançaram vários artistas. Hoje, porém, as tentativas de reeditar a chamada "era dos festivais" não têm surtido o efeito desejado. Pelo contrário. Os programas que se arriscam a lançar novos artistas mais parecem os manjadíssimos shows de calouros.
O exemplo mais recente é a quarta edição do programa Fama, da Globo. Com 14 participantes, se propõe a revelar e agraciar um futuro cantor ou cantora para a gravação de um CD. Para isso, os concorrentes são trancafiados numa espécie de "casa do Big Brother" musical, onde passam por um "peneirão", com direito à aulas, testes e avaliações de profissionais especializados. Se no passado os artistas dos festivais eram ovacionados e causavam grande comoção no público ao criarem composições novas, atualmente os "calouros" apenas relêem velhas músicas da chamada MPB, muitas vezes sucessos lançados na era dos festivais.
Mas, a quem seria destinado esse "show de calouros chique"? Nem mesmo o chamado público infanto-juvenil, mais suscetível às "novidades", parece se importar com os candidatos à fama. Tanto que os vencedores das três edições anteriores do programa – Vanessa Jackson, Marcus Vinícius e Tiago Silva -não se tornaram, como se dizia antigamente, "artistas consagrados pelo público e pela crítica". Fazem shows pelo país afora, sempre evocando suas participações no Fama, numa incansável peregrinação em busca do sucesso, que aparentemente não foi avisado de que deveria chegar com a vitória no programa da Globo.
Melhor destino tiveram as meninas do Rouge e os rapazes do Br’Oz, que participaram do Popstar, do SBT, programa semelhante ao Fama. Destinados unicamente ao público infantil e adolescente, esses conjuntos seguiram suas carreiras, embora o sucesso não seja o mesmo de outrora. Já os participantes do Fama carecem de uma identidade artística, pois atiram para todos os lados ao relerem várias vertentes da MPB. Assim, nem se encaixam no perfil dos adolescentes e jovens, como também passam longe dos ouvidos adultos. Deveriam prestar mais atenção no que ensinaram Milton Nascimento e Fernando Brandt na canção Bailes da Vida: "todo artista deve ir aonde o povo está".